21/05/2025 - 12:01
Órgão acadêmico que assessora o governo alemão alerta para estagnação em 2025 citando tarifas de Trump como principal causa. Pacote fiscal que alivia regras para empréstimos deve gerar estímulos apenas em 2026.O Conselho de Consultores Econômicos do governo federal da Alemanha rebaixou novamente nesta quarta-feira (21/05) sua previsão de crescimento para a maior economia da Europa e alertou para uma estagnação em 2025, em meio uma “fase acentuada de enfraquecimento”.
No segundo semestre de 2024, o órgão acadêmico que assessora o governo alemão em política econômica previu um leve crescimento de 0,4%. Mas, no relatório apresentado nesta quarta-feira, os cinco membros do Conselho destacaram os efeitos da política tarifária dos Estados Unidos como sendo a principal causa da estagnação da economia alemã.
O relatório afirma que a economia do país – amplamente dependente das exportações – continua em uma fase acentuada de enfraquecimento, tendo se beneficiado apenas ligeiramente do crescimento econômico global.
Soma-se a isso o efeito das tarifas de importação impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A economista e membro do Conselho Veronika Grimm avalia que, no geral, há “grande incerteza sobre a futura direção da política comercial dos EUA”.
“Mesmo que as tarifas sejam de fato reduzidas, que Trump tenha sucesso com sua ‘economia de acordos’, os países simplesmente negociem e as tarifas não sejam tão altas, ele [Trump] conseguiu introduzir uma enorme incerteza no sistema”, disse a economista Ulrike Malmendier, que também integra o colegiado.
No cenário doméstico, os economistas citam “extensas exigências burocráticas” e “longos procedimentos de aprovação” como sendo os principais obstáculos, juntamente com outros desafios enfrentados pela economia alemã como o abandono gradual dos combustíveis fósseis, o envelhecimento da sociedade e a disseminação da inteligência artificial.
Novo impulso apenas em 2026
O pacote de gastos aprovado em março pelo governo federal, que inclui um fundo especial de 500 bilhões de euros (R$ 3,2 trilhões) para investimentos em infraestrutura e remove em grande parte os investimentos em defesa das regras que limitam os empréstimos, dá alguma esperanças aos economistas.
A partir de 2026, os novos fundos deverão estimular os investimentos em construção e equipamentos, assim como os gastos do governo, afirmou o Conselho, prevendo um crescimento de 1,0% no próximo ano.
Os economistas avaliam que o pacote fiscal oferece oportunidades reais para a retomada do caminho para o crescimento, mas ressaltam que isso ainda deve levar algum tempo. “Os efeitos do pacote não serão notados imediatamente e é por isso que esse impulso de crescimento só ocorrerá no ano que vem”, advertiu a presidente do Conselho, Monika Schnitzer,
Em nota divulgada à imprensa, a economista enfatizou a necessidade de uma rápida aprovação e implementação das medidas para facilitar os gastos. “Para isso, primeiro precisamos de um orçamento para esclarecer quem gastará o dinheiro, quando e como.”
Inflação, por ora, sob controle
O Conselho previu uma inflação de 2,1% para este ano e de 2,0% em 2026, o que, segundo os economistas, significa que o país estaria indo “na direção certa”. No entanto, não está claro se os atuais conflitos comerciais contribuirão para aumentar ou reduzir a inflação.
“Além disso, a política fiscal expansiva na Alemanha poderia aumentar as expectativas de inflação e, dessa forma, favorecer uma política monetária mais restritiva por parte do Banco Central Europeu (BCE)”, observou Veronika Grimm.
A Alemanha foi o único membro das economias avançadas do G7 que não cresceu nos últimos dois anos, sobrecarregada por restrições fiscais e pela recessão industrial.
Em março, o governo alemão já havia reduzido para zero sua previsão de crescimento econômico deste ano, citando o impacto das tarifas de Trump.
O então ministro da Economia, Robert Habeck, disse que havia pouca esperança de alívio após dois anos de recessão em 2023 e 2024. A economia alemã sofreu contração de 0,3% em 2023 e de 0,2% em 2024.
rc (AFP, Reuters)