O ministro Fernando Haddad afirmou na sexta-feira, 21, que uma proposta do governo pode trazer ao Brasil “uma coisa inédita, que é o crédito consignado privado“. O plano é expandir para qualquer pessoa com carteira de trabalho assinada um benefício hoje restrito a aposentados, funcionários públicos e parte pequena dos trabalhadores privados.

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Para a população, o impacto seria a expansão do acesso a um crédito mais barato.

Como os descontos desta modalidade de empréstimo são feitos de forma automática direto do pagamento, as instituições financeiras enfrentam riscos consideravelmente menores e podem assim reduzir as taxas de juros cobradas. Haddad estima uma queda de 5,5% para 2,5%.

Membros do governo e do mercado já mencionam planos deste novo crédito há algum tempo, porém a medida ainda não foi oficializada. Segundo a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, o novo consignado privado deve ser lançado em março e o banco já começou a buscar possíveis clientes. A instituição é líder em concessão de crédito consignado hoje no país.

Na entrevista ao ICL Notícias, Haddad adiantou um aspecto importante do projeto: quem adquiriu empréstimos com juros mais altos poderá migrar para a nova modalidade para reduzir as taxas pagas.”Os 90 dias iniciais desse programa vão ser para a pessoa trocar o empréstimo dela”, afirmou.

O que é crédito consignado?

O crédito consignado surgiu na década de 1950, restrito a funcionários públicos. Estes trabalhadores podiam contrair empréstimos cujas parcelas seriam descontadas diretamente de sua folha de pagamento.

Em 2003, em seu primeiro mandato presidencial, Lula ampliou o acesso para beneficiários do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e para trabalhadores da iniciativa privada.

O crédito consignado privado, no entanto, está restrito às empresas que fecham convênios com bancos para oferecer a modalidade. Assim, grande parte dos trabalhadores — sobretudo funcionários de empresas pequenas ou domésticos — segue sem acesso hoje.

Qual a proposta do governo?

Segundo as informações já divulgadas, será eliminada a necessidade de convênio por parte de seus empregadores para solicitar crédito. Os pedidos poderão ser realizados apenas com as informações do e-Social, um sistema digital que centraliza dados trabalhistas dos brasileiros.

“Você vai estar fazendo uma coisa para o bem da família brasileira. Às vezes o trabalhador nem sabe quanto está pagando de juro. Ele toma o empréstimo porque precisa, sem fazer a conta. O consignado no e-Social vai permitir juro muito menor, não importa onde esse trabalhador esteja empregado”, defendeu Haddad. “Uma empregada doméstica em um casa com dois funcionários, você acha que vai ter convênio com banco para fazer consignado? Não vai ter.”

Questionado se o programa não provocaria um endividamento das famílias brasileiras, Haddad ponderou que hoje a população já está endividada e pagando juros caros.

Crescimento do mercado

A medida deve ampliar consideravelmente o mercado deste tipo de crédito no Brasil. Segundo o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, o tamanho do crédito consignado para funcionários privados pode crescer dos atuais R$ 40 milhões para cerca de R$ 120 milhões.

“Os cerca de 10 milhões de funcionários públicos e 40 milhões de aposentados e pensionistas do INSS já movimentam uma carteira de R$ 600 bilhões. Já o consignado privado engatinha, pois com praticamente a mesma quantidade de pessoas”, analisa o CEO da Oneblinc, Fábio Torelli.

“As novas regras que estão sendo elaboradas tem potencial para superar o Crédito Consignado Público, mas o perfil do solicitante pesará na concessão do empréstimo”, segue Torelli. Ele acredita que as instituições financeiras passarão a analisar dados como o tempo da pessoa no emprego atual, multa prevista do FGTS em caso de demissão e trocas de posto nos anos recentes.

(*com informações do Estadão Conteúdo)