Brastemp e Consul são como irmãs que nunca brigam. Cada uma das marcas sempre teve seu perfil muito bem definido pela empresa-mãe, a Multibrás, que não pode ouvir falar em competição entre as controladas. A Brastemp tem os eletrodomésticos top de linha, mais caros e com design que faz uma simples batedeira parecer objeto de decoração. Já a Consul sempre foi conhecida pelos preços mais em conta. Isso vai mudar. A Multibrás está relançando todos os produtos Consul. Neste caso, o objetivo é simples: atualizar a linha, que estava precisando de uma renovação para despertar a atenção do consumidor. ?Já era hora de deixá-los com uma cara mais moderna?, diz Simone de Camargo, gerente da marca. A mudança nada tem a ver com seu desempenho no mercado. Apesar do glamour da Brastemp, quem lidera as vendas no País é a Consul, com 50% de participação no segmento de linha branca. O faturamento das duas é equivalente: enquanto uma ganha no alto preço de seus produtos, a outra supera em volume. A Multibrás não divulga números por marca, apenas a soma, que foi de R$ 1,7 bilhão em 2001. ?No final das contas, há um certo equilíbrio?, diz Simone.

Mudanças na Consul sempre são um assunto delicado. Os produtos precisam estar atualizados, mas ao mesmo tempo não podem ter o requinte de uma Brastemp. ?Os consumidores da Consul querem o produto por sua qualidade, não querem frufrus que os façam parecer frágeis?, conta a executiva. O resultado são eletrodomésticos com desenhos mais suaves e que incluem novas tecnologias. Os condicionadores de ar, por exemplo, ficaram mais silenciosos e já vêm com moldura. As geladeiras agora são do tipo frost-free, que descongelam sozinhas. Nessa nova fase, a Consul também entra na linha de lava-louças e depuradores de ar. ?Estamos mostrando que além de ser sinônimo de confiança, a marca oferece produtos modernos?, diz Simone.

 

À primeira vista, pode parecer que a Consul não passa de uma coadjuvante na Multibrás. Afinal de contas, os grandes investimentos em publicidade vão sempre para a Brastemp ? que chegou a gastar
R$ 5 milhões em merchandising na última edição do Big Brother. Mas fora do eixo Rio?São Paulo, a Consul é mais forte que a irmã, principalmente no Nordeste. Para se ter uma idéia, nos últimos dois anos, as vendas de fogões da marca cresceram 118%. A Consul também sustenta as exportações do grupo: a marca é vendida em todos os países da América Latina. Nada mal para uma empresa criada na década de 40 por um grupo de amigos, sem grandes pretensões. Eles fabricavam anzóis para pesca e decidiram entrar no ramo de refrigeração para vender também as iscas. Sessenta anos depois, a Consul lidera o mercado e acaba de ganhar um banho de loja. Continua, é verdade, não sendo assim nenhuma Brastemp. Mas as irmãs não vão brigar por causa disso.