Uma rodada de consultas sobre a situação no Iêmen começou nesta quarta-feira (30) em Riad, sem a presença dos rebeldes houthis – que recusam qualquer diálogo em território “inimigo” -, num contexto de anúncios unilaterais de cessar-fogo de ambas as partes na guerra que afeta este país da Península Arábica.

A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, que intervém no Iêmen desde 2015 para apoiar as forças do governo, declarou um cessar-fogo na noite de terça-feira a partir desta quarta para o mês do jejum muçulmano do Ramadã.

No sábado, os houthis – os rebeldes iemenitas apoiados pelo Irã que lutam contra o governo internacionalmente reconhecido – anunciaram uma trégua de três dias que pode ser estendida sob certas condições.

Durante o início das consultas esta manhã em Riad, o enviado especial da ONU para o Iêmen, Hans Grundberg, considerou que os anúncios de uma interrupção temporária das operações militares “são um passo na direção certa”.

“O processo de paz no Iêmen está parado há muito tempo”, lamentou Grundberg. “Quanto mais o conflito se arrasta, mais o impacto sobre os civis piora e mais difícil se torna reparar os danos. O povo iemenita precisa ver uma saída clara”, acrescentou.

O diplomata sueco declarou que retomará suas próprias consultas “nas próximas semanas”, esperando que “todos os principais atores iemenitas participem”.

– Trégua multilateral? –

Observando “evoluções positivas”, Grundberg assegurou que se comprometeu a alcançar uma trégua multilateral “antes do início do Ramadã”, no início de abril.

As discussões de Riad foram anunciadas em meados de março pelo Conselho de Cooperação do Golfo, que agrupa os seis países da Península Arábica, incluindo dois anti-houthis – Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

O emissário dos Estados Unidos para o Iêmen, Tim Lenderking, também presente em Riad, assegurou que seu país “apoia firmemente a proposta de trégua imediata da ONU”.

“Saudamos a contenção demonstrada pelas partes nos últimos dias, em particular o anúncio da coalizão sobre a cessação das operações militares no Iêmen durante o Ramadã”, declarou.

No entanto, especialistas permanecem céticos devido à ausência de um dos principais protagonistas do conflito, os rebeldes, nas consultas.

Os insurgentes propuseram que a trégua atual se torne “permanente” se Riade levantasse o “bloqueio” do Iêmen, interrompesse seus ataques aéreos e retirasse suas “forças” deste país, em guerra desde 2014.

A coalizão controla o espaço aéreo e marítimo do Iêmen e só permite que voos da ONU aterrissem no aeroporto da capital Sanaa, localizado na área sob controle rebelde.

O conflito no Iêmen causou quase 380 mil mortes diretas e indiretas, dois milhões de deslocados e colocou grande parte da população à beira da fome, no que a ONU descreve como uma das piores catástrofes humanitárias do mundo.

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