Lançar um produto não é tarefa fácil. A Bic, fabricante de canetas, isqueiros e lâminas de barbear, sabe dis so. Por essa razão, quando tem um item novo pa ra colocar nas prateleiras dos supermercados, a em presa lança mão de várias ferramentas de mar keting. As mais comuns são as propagandas em TV, rádio, revistas e as promotoras de venda, aquelas garotas uniformizadas incumbidas de explicar ao consumidor as vantagens do lançamento. Mas como garantir que a promotora vai mesmo falar ? e corretamente ? do produto? Como saber se o cliente irá aceitar a novidade? Para resolver essas questões, a Bic contratou uma agência de consumidores misteriosos. Não, não se trata de um detetive. O consumidor misterioso ? também conhecido como cliente oculto ou até mistery shopper ? é uma ferramenta rápida e eficaz para detectar e corrigir falhas em operações de venda.

Funciona assim: uma pessoa de perfil semelhante ao do consumidor do produto ou serviço em questão é contratada por um instituto de pesquisa e treinada para ir até o ponto-de-venda se passar por um cliente comum. Na verdade, ela está ali para avaliar todos os detalhes do processo comercial. No caso da Bic, a missão do consumidor misterioso foi verificar se a promotora (ou promotor) de venda abordava corretamente o cliente e se explicava as qualidades do produto. Também avaliou a disposição da mercadoria na loja e até a reação dos consumidores. “O cliente oculto é uma das melhores e mais eficazes ferramentas para detectar falhas na operação varejista”, diz Lídia de Oliveira, diretora do Grupo Plus Advance Marketing Integrado, contratado pela Bic para colocar o consumidor misterioso em campo. Até Lídia já se fez passar por um cliente oculto. Os promotores sabiam que iam ser abordados por falsos consumidores e também que, se tirassem nota 10 nos quesitos avaliados, receberiam prêmios. Ao final de quatro mil visitas a 100 pontos-de-vendas, 70% dos promotores apresentaram resultados positivos.

Outro exemplo de como a tática do cliente oculto pode funcionar aconteceu com um fabricante de produtos de limpeza, cujo amaciante de roupas era líder de mercado. Ele lançou a versão “bebê” do produto, para roupinhas infantis e, algumas semanas depois, viu as vendas caírem. Contratou consumidores misteriosos, detectou o problema e recuperou a receita (leia quadro). ?O cliente misterioso é uma metodologia que, hoje, representa 25% do volume de trabalho de uma empresa de pesquisa. Nos anos 80, não passava de 1%?, diz Roberto Secches, diretor da consultoria Global Brands. Mas quem é a pessoa que se candidata a cliente oculto? “Selecionamos esse pessoal entre o conjunto de consumidores do produto que vai ser avaliado ou gente que respondeu pesquisa e entrou em nosso banco de dados”, diz Nelsom Marangoni, diretor do Ibope Solution. O mistery shopper recebe no mínimo R$ 100 para cada visita que faz às lojas. Mas o valor pode passar dos R$ 2 mil no caso de itens mais sofisticados, como veículos de luxo, que exigem do misterioso comprador um conhecimento maior.

CONFUSÃO NA EMBALAGEM
Uma fabricante de amaciantes lançou a versão “bebê” de seu produto, com perfume característico, para roupinhas infantis. De repente, as vendas começaram a cair. Com a ajuda de clientes misteriosos, ela descobriu que o consumidor comprava o amaciante achando que o produto era igual ao tradicional, apenas com um cheirinho diferente. Chegando em casa, percebia que o amaciante não dava conta de limpar peças pesadas. Diante do descontentamento, o cliente abandonou a marca. O fabricante, então, melhorou as informações da embalagem.

FALTA TREINAMENTO
Uma montadora de veículos, que tinha problemas com sua rede de vendedores, montou um programa de visitas de consumidores ocultos que se estendeu ao longo de um ano. Alguns clientes misteriosos chegaram até a comprar carros para verificar como funcionava o processo de assistência durante e após a venda. Todas as falhas ? desleixo no atendimento, falta de conhecimento técnico ? foram apontadas e, em seguida, corrigidas com treinamento.