A rede de atacarejos Assaí segue identificando movimento de consumidores trocando produtos por variações mais baratas e com pouca capacidade de compra, em meio ao cenário de juros elevados e disputa pela renda da população com as empresas de apostas online, disse o presidente-executivo da companhia, Belmiro Gomes, nesta sexta-feira,08.

“A troca do consumidor por produtos mais baratos e econômicos ainda é persistente. Juros, movimento de apostas esportivas, endividamento… isso forma um cenário em que o consumidor é obrigado a comprar produtos mais baratos”, disse o executivo em conferência com analistas após a publicação do resultado de segundo trimestre do Assaí, na noite da véspera.

“O ‘trade down’ está mais forte, principalmente no Nordeste, devido a outros hábitos que estão tirando dinheiro da população”, afirmou. “Se entrar dinheiro novo, vai mais para o mercado de apostas do que para alimentos”, acrescentou.

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No segundo trimestre, as vendas mesmas lojas do Assaí subiram 4,6%, um desempenho considerado fraco pela companhia diante do objetivo de avançar com o indicador em um patamar acima da inflação.

As ações da companhia, que nos últimos anos promoveu uma bilionária estratégia de expansão de presença de suas lojas no país, exibiam queda de 3,8% às 13h42, enquanto o Ibovespa recuava 0,22%.

No balanço de resultados, o Assaí citou que o desempenho das vendas mesmas lojas refletiu pressão no poder de compra dos consumidores e o chamado “trade down”.

Enquanto isso, os fabricantes de alimentos também seguem ajustando (os preços dos) seus produtos, disse o vice-presidente comercial e de logística do Assaí, Wlamir dos Anjos.

Segundo ele, o Assaí esperava que a chamada “reduflação”, em que o tamanho de um produto é reduzido enquanto o preço se mantém estável ou sobe, estivesse “mais branda”, algo que ainda não ocorreu.

“O setor ainda está tentando fazer com que o produto caiba no bolso do consumidor…As alterações nos produtos têm feito com que os preços fiquem estáveis, mas isso diminui a qualidade”, disse o executivo citando como exemplos itens como chocolate, sucos e creme de leite. “A indústria tem reduzido embalagens.”

Marca própria

Gomes afirmou que o Assaí tem trabalhado em novos projetos e oferta de serviços nas lojas, na expectativa de atrair novos clientes e se afastar da pecha do atacarejo ser um “varejão de pobre”.

Na frente de novos projetos, está a oferta de produtos de marca própria, em que espera conseguir obter margens melhores além de ajudar o poder de negociação de preço da empresa junto a outros fornecedores, disse.

Segundo o executivo, o projeto de marca própria vai começar no segundo semestre deste ano, mas ele não deu detalhes.

Questionado sobre as tentativas do setor de varejo alimentar em conseguir aprovar legislação que permita a venda de medicamentos, hoje exclusiva do setor de farmácias, Gomes afirmou que a iniciativa “tem suas dificuldades” para ser operacionalizada nas lojas, “mas provavelmente não é mais complexo que um açougue, em que há refrigeração e mão-de-obra especializada”.

“Os custos e despesas disso já estão dentro de casa…Isso nos permite sermos competitivos nessa categoria (medicamentos)”, disse o presidente do Assaí.