Papéis avulsos

A turbulência no mercado internacional causada pelo rebaixamento da classificação de risco dos Estados Unidos e pelo temor de que o mesmo ocorresse com os principais países da Europa provocou um rombo nos bolsos dos investidores brasileiros. Entre os dias 5 e 8 de agosto, o valor de mercado das companhias abertas brasileiras encolheu 7,3%. Na ponta do lápis, essa baixa significa uma perda de R$ 147 bilhões de reais em apenas dois pregões. No acumulado do mês, a conta é ainda mais salgada. A queda é de 15% ou R$ 330 bilhões. A necessidade de os investidores internacionais cobrirem prejuízos em outros mercados que não o brasileiro fez com que as perdas se concentrassem nas ações mais líquidas.

 

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No mês, o valor de mercado da Petrobras caiu 20% ou R$ 66 bilhões, e a capitalização da Vale recuou R$ 51 bilhões, mesmo percentual da estatal petrolífera, segundo cálculo da empresa Economática realizado com exclusividade para a DINHEIRO. Os setores menos prejudicados foram os de empresas tradicionalmente anticíclicas e que pagam bons dividendos, como as companhias de eletricidade. Em média, o valor de mercado dessas companhias caiu 5,25 entre os dias 5 e 8 de agosto. “Apesar do susto, o comportamento do mercado não tem sido muito diferente do habitual”, diz o orientador financeiro Fernando Costa. “Ações de empresas mais alavancadas e mais próximas do mercado de commodities, como Vale e Petrobras, têm caído mais, e os papéis defensivos caíram menos.” 

 

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Touro x Urso

 

O rebaixamento da nota de risco dos Estados Unidos pela S&P causou queda nos mercados mundiais. O Índice Bovespa não escapou e perdeu 3,39% entre sexta-feira e terça-feira. O mercado esperava que os EUA injetassem mais liquidez no sistema, mas o que veio foi a promessa de manter juros zero por dois anos. A dívida de países da Europa aumentou o pânico. Entre 15 e 19 de agosto, será divulgado no Brasil o IGP-10 e o IPCA-15, referentes a agosto. Nos EUA, a agenda inclui dados dos preços ao produtor e ao consumidor (julho).

 

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Educação financeira

 

No livro Análise Fundamen-talista, lançado como parte da coleção Expo Money, o autor José Kobori busca expor e ensinar para todos os tipos de investidores, métodos e ferramentas da análise fundamentalista que ajudam a estudar o preço justo das ações de uma companhia e, dessa maneira, facilitar a decisão de aplicar ou não num papel. (Ed. Campus Elsevier, R$ 45).

 

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Destaque no pregão

 

Boi da Marfrig fica mais magro

 

Uma das maiores baixas da bolsa brasileira nos últimos dias está no setor de alimentos. As ações ordinárias do frigorífico Marfrig amargam uma queda de quase 43% desde o início do mês. Segundo operadores de mercado, as quedas têm sido provocadas por pesadas vendas da gestora de fundos paulista GWI, que administra fundos de ações adotando estratégias muito arriscadas, e que foi obrigada a encerrar alguns de seus fundos na crise de 2008. Procurada, a GWI não atendeu a reportagem e a Marfrig informou que não comenta oscilações com o preço de suas ações e que não tem como acompanhar movimentos acionários no pregão. “A única visualização pública é a das compras e vendas das corretoras”, informou a companhia em um comunicado. 

 

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Quem vem lá

 

CVC viaja para a Bolsa

 

A operadora de turismo CVC enviou para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um prospecto preliminar com informações de sua Oferta Inicial de Ações (IPO). Serão vendidas ações ordinárias, numa oferta secundária, mas ainda não há detalhes sobre o volume oferecido e o preço dos papéis.

 

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Fique de olho: No primeiro semestre de 2011, a empresa alcançou receita líquida consolidada de R$ 265,2 milhões. Entre 2008 e 2010, as reservas aumentaram em 18,31% a uma taxa anual.

 

 

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Bancos

 

Crédito ajuda o BB

 

O Banco do Brasil obteve lucro recorrente de R$ 6 bilhões no primeiro semestre do ano, alta de 40% ante o mesmo período de 2010. Segundo o banco, o resultado foi impulsionado pelas receitas com operações de crédito, que cresceram 21,1%, com alta de 20,2% na carteira de crédito. Com os resultados, o banco espera que o lucro recorrente aumente entre 21% e 24% no ano, e a carteira de crédito tenha expansão entre 17% e 20% em 2011.

 

 

 

 

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Mercado em números

 

Energisa 


R$ 1,2 bilhão - Foi a receita líquida da Energisa no primeiro semestre do ano, alta de 12,1% ante o mesmo semestre de 2010. No período, o lucro líquido foi de R$ 92,6 milhões e os investimentos consolidados do grupo somaram R$ 237,6 milhões.

 

 

BR Malls


R$ 792 milhões – É o valor total que a BR Malls vai investir em shoppings no Paraná, por meio da compra de 70% da Alvear Participações. A holding detém projetos já prontos, nos quais serão investidos R$ 510,5 milhões do total, e projetos em desenvolvimento.

 

 

TAM


R$ 189,2 milhões - Foi o lucro líquido da companhia aérea TAM no primeiro semestre do ano, que reverteu o prejuízo de R$ 245,7 milhões dos seis primeiros meses de 2010.

 

 

Brasil Brokers


R$ 11,5 milhões - É o valor que a Brasil Brokers pagará por uma participação de 75% no capital da Vera Bernardes Assessoria Imobiliária, empresa que desenvolve as atividades de consultoria e intermediação imobiliária na cidade de Porto Alegre (RS). Será paga uma parcela inicial de R$ 4,6 milhões e o saldo restante será divido em três parcelas anuais variáveis.

 

 

 

Pelo mundo

 

Vazam dados do Citi no Japão

 

Na filial japonesa do Citibank, 92.408 clientes tiveram dados expostos. O banco informou que as senhas dos cartões não vazaram, e que já tomou medidas de segurança. As ações do Citi caíram 6% no dia do anúncio.

 

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Explodem prejuízos na usina de Fukushima 

 

A Tokyo Electric Power Co, (Tepco), operadora da usina de Fukushima, perdeu US$ 7,4 bilhões no primeiro semestre. Os gastos vieram com o tsunami no Japão. No dia do anúncio, os papéis ficaram estáveis, mas já caem 80% desde março.

 

 

McDonald’s vende mais

 

As vendas do McDonald’s subiram 4,4% nos EUA em julho, turbinadas pela cafeteria McCafe. Na Europa, as vendas subiram 5,3%, e na região que inclui Ásia, Oriente Médio e África, 4%. No dia do anúncio, as ações caíram 3,5%.

 

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Personagem

 

Um freio no dólar

 

Daniel Randon, presidente e diretor de relações com investidores da empresa de autopeças gaúcha Fras-Le,do grupo Randon, conseguiu algo difícil para uma empresa com boa parte de seu faturamento em moeda estrangeira,  que enfrenta o dólar fraco em relação ao real. Mesmo amargando uma queda de 9,4% nos lucros no primeiro semestre de 2011 em relação a 2010, a empresa elevou seu faturamento em 10,5%. Para enfrentar a concorrência internacional, a empresa adotou duas estratégias. Além de transferir parte da produção para fora, ela aplicou o receituário tradicional, prestando atenção na clientela e cortando os custos. Randon conversou com DINHEIRO:

 

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Daniel Randon, presidente da Fras-le: investindo em pesquisa

 

Qual a importância das operações internacionais?

É grande. Temos escritórios em sete países e duas unidades produtivas fora do Brasil: uma fábrica no Alabama, nos Estados Unidos, e outra na China, perto de Xangai. Cerca de 10% da nossa produção está no Exterior. Além disso, 45% das receitas são obtidas em outros mercados. De nossos três mil funcionários, cerca de 200 estão trabalhando em operações internacionais.

 

Como enfrentar as dificuldades do real valorizado?

Não há milagre. Não é transferindo operações para a China que nós conseguimos reduzir custos de uma hora para outra. Competitividade é algo que se constrói todos os dias, olhando o mercado, analisando a concorrência e a demanda dos clientes.

 

Qual tem sido a estratégia nos últimos meses?

Temos analisado o desempenho de vários mercados. Às vezes as margens ficam mais estreitas em um lugar, então procuramos compensar nos outros. Operamos de forma flexível. Por exemplo, há alguns meses percebemos que estávamos perdendo mercado no Brasil para peças de baixo custo vindas da China. Analisamos essas peças, desenvolvemos um produto parecido, de custo menor, sem abrir mão da qualidade e segurança. Perdemos alguns clientes, mas conseguimos manter uma boa fatia de mercado.

 

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Essas são medidas pontuais. E no longo prazo?

Cuidamos da produtividade e investimos até 4% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Temos um campo de provas para testar equipamentos com mais rapidez e trabalhar com o cliente. Temos uma vantagem, pois 66% de nossas vendas destinam-se ao mercado de reposição, e ficamos menos suscetíveis às quedas de demanda. 

 

As ações da Fras-Le vêm caindo. Isso preocupa o sr.?

Não. Acredito que ocorreu uma corrida para a liquidez, mas não tenho informações precisas. Imagino que os investidores estrangeiros precisavam de dinheiro e venderam ações brasileiras. Foi um comportamento de manada para cobrir perdas. Movimentos como esse ocorrem no dia a dia. A turbulência recente nos fez revisar alguns projetos, e estudarmos se adiamos ou não alguns investimentos em expansão. Não adianta ampliar a fábrica se a demanda cai. 

 

 

Colaborou Lilian Sobral