Além do português, do inglês e do italiano, o mandarim começa a ser um idioma ouvido com alguma frequência nos corredores da sede da Comau Services Worldwide, em Betim (MG). É que o braço brasileiro da companhia, que pertence ao Grupo Fiat, acaba de fechar um contrato de manutenção das 14 plantas do complexo industrial da chinesa Haier, uma das maiores fabricantes locais de eletrodomésticos e utensílios para cozinha.
 

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Cibernética: divisão brasileira da fabricante de robôs industriais assinou contratos com 14 fábricas chinesas

 

Mais do que o valor envolvido (R$ 4,6 milhões em um ano), o negócio chama a atenção por um detalhe curioso do contrato. A remuneração da Comau,  grupo conhecido pela fabricação e manutenção de robôs industriais, pode variar ? para cima ou para baixo ? de acordo com os ganhos de produtividade que os serviços prestados gerarem na linha fabril da Haier. 

A chamada cláusula de performance foi a maneira encontrada pela Comau para conquistar a confiança dos chineses. ?Esse contrato será nossa vitrine em um segmento que deverá movimentar centenas de milhões de dólares nos próximos anos?, disse à DINHEIRO Hiram Reis, diretor mundial da Comau Services.

O otimismo do executivo leva em conta uma avaliação feita no final de 2008, quando liderou um grupo de executivos em um périplo pela China. Na época, Reis conheceu o sistema e a rotina de manutenção realizados em 40 grandes conglomerados chineses de grande porte do setor industrial. ?A terceirização desse tipo de atividade ainda é incipiente na China e seu nível ainda está muito aquém do padrão global?, afirma Reis.

Para dar conta da tarefa, o diretor recrutou um batalhão de 240 funcionários chineses ? alguns deles foram treinados em Betim. A expansão internacional da Comau Services não se resume à China. Em 2008, ela fincou bandeira em Monterrey, no México, onde mantém contratos com três fábricas da área de refrigeração da americana Springer. O próximo alvo do diretor mundial da Comau Services é a Inglaterra, país para o qual ele já está com passagem marcada para o começo de março.

A Comau Services nasceu em 2003 como resposta à apatia vivida pela Comau Mercosul. Na época, a divisão amargava uma redução de 30% nas encomendas. Como boa parte de seu pessoal era formado por engenheiros e técnicos qualificados, optou-se pela área de manutenção, setor que cresce na faixa dos dois dígitos ao ano e movimentou R$ 120 bilhões em 2009.

A ousadia rendeu dividendos e liberdade para os brasileiros fazerem negócios em todos os cantos do planeta, algo raro em se tratando de uma companhia europeia. Graças à vertente de serviços, a receita da Comau Mercosul avançou 87% no período de 2005 a 2009, para R$ 638 milhões. No Brasil, esse desempenho está diretamente relacionado à conquista de clientes do porte de Petrobras, Vale, Votorantim, Aracruz e Companhia Siderúrgica Nacional.

Para ganhar espaço em um segmento dominado pela sueco-suíça ABB e as germânicas Siemens e Voith, com mais tradição na área, a Comau Services apostou na diferenciação. Boa parte de seus contratos inclui cláusulas de performance. Foi graças a esse expediente que ela conseguiu se firmar na carteira de fornecedores da petroquímica Braskem, por exemplo. Segundo a Comau, até agora os contratos de risco impulsionaram a remuneração recebida pela empresa.