19/09/2025 - 18:46
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), que acontecerá em Belém (PA), em novembro deste ano, será uma oportunidade de os países fortalecerem o multilateralismo climático, ou seja, a cooperação global contra as mudanças do clima.
“A COP-30 é uma forma de fortalecermos o multilateralismo e de buscarmos novos paradigmas”, declarou a ministra durante uma coletiva de imprensa.
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A conversa com os jornalistas foi realizada logo após o último dos seis encontros regionais do chamado Balanço Ético Global (BEG), uma iniciativa de mobilização social que aconteceu nesta sexta-feira (19), em Nova York.
Na companhia do presidente designado da COP-30, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago; da fundadora do Centro de Ética da Terra, Karenna Gore e do conselheiro especial do Secretário-Geral da ONU para a Ação Climática e Transição Justa, Selwin Hart, Marina destacou a importância do fortalecimento da diplomacia e do multilateralismo climático que, segundo ela estão sob ameaça.
“O multilateralismo corre o risco de ser estilhaçado e este seria o pior dos mundos”, declarou Marina, pouco antes de, ao responder a uma pergunta sobre “os retrocessos na agenda ambiental”, citar a decisão dos Estados Unidos de deixarem, em janeiro de 2026, o chamado Acordo de Paris, pactuado por 195 países, durante a COP-21, para enfrentar e tentar reverter as mudanças climáticas globais, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e evitar um aumento da temperatura média global superior a 1,5°C acima dos níveis pré-Revolução Industrial, nos fins do século 18.
“Claro que isso é um prejuízo enorme. Os EUA são, de longe, a maior potência econômica, o segundo maior emissor [de gases de efeito estufa], a maior potência tecnológica. Se não estão alinhados com o Acordo de Paris, há sim um imenso prejuízo e não seremos negacionistas de não reconhecermos isso. Por outro lado, esta é a oportunidade para […] que diferentes países possam dar uma demonstração de fortalecimento do multilateralismo climático”, ponderou a ministra.
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Ela frisou que os desafios do clima exigem uma mudança de perspectiva e a implementação de iniciativas para viabilizar, até 2035, os US$ 1,3 trilhão necessários para apoiar os países em desenvolvimento a executarem ações de redução de emissão de gases de efeito estufa e de adaptação aos impactos da mudança do clima e a substituição gradual dos combustíveis fósseis, poluentes, como petróleo, carvão e gás natural, por energias renováveis (solar, eólica, hidrelétrica e biomassa).
“Ainda temos uma limitação de fontes renováveis para suprir toda a demanda por energia, sobretudo dos setores econômicos, mas isto tem que ser superado pelo fornecimento de energia limpa”
A ministra enfatizou que não se pode mais protelar as decisões já tomadas. “Como as de triplicar [o uso de fontes de energia] renovável, duplicar a eficiência energética e investir, global e nacionalmente, em uma matriz energética limpa e diversificada que substitua estas fontes fósseis. Se não, vira uma eterna desculpa: não fazemos a transição porque ainda não há alternativas [capazes de atender a demanda], mas não se investe [no desenvolvimento e disseminação das] alternativas”, concluiu.
Ainda durante a entrevista coletiva, Marina comentou a questão dos preços da estadia em Belém durante a COP-30. “São inaceitáveis”, disse, assegurando que o governo brasileiro vem adotando as medidas cabíveis para garantir que as delegações internacionais e a sociedade civil consigam participar, presencialmente, do evento.
“Em parceria com o governo do Pará, o governo federal tem procurado os meios legais de que dispõe para pôr um freio nestes preços exorbitantes, inaceitáveis”, disse a ministra.
Marina Silva ressaltou que, em outras edições da COP, em diferentes países, o valor das diárias aumentaram, em média, três vezes em comparação aos valores habitualmente cobrados. Desta vez, em Belém, há relatos de aumentos de até dez vezes. “É o absurdo do absurdo”.
“Estamos fazendo tudo para que todos os países possam estar presentes”, acrescentou o embaixador André Corrêa do Lago, explicando que uma das propostas é assegurar ao menos 15 quartos para as delegações de países de “menor desenvolvimento relativo” e para “as pequenas ilhas”, além de, no mínimo, dez quartos para as nações que tenham “mais meios para tentar conseguir quartos no mercado”.
“Infelizmente, o preço dos quartos em Belém continuam completamente desproporcional a qualquer COP. Isso, realmente, não tem facilitado [a organização do evento]. E temos que lembrar que não são apenas os delegados – sem os quais não há COP -, mas também a sociedade civil, a academia, o setor privado e a imprensa. Há, ainda, muita gente precisando de quartos”, admitiu Lago.