21/08/2025 - 11:58
O Brasil chega à COP30, em 2025, com uma combinação rara de responsabilidade e oportunidade. “Um aspecto fundamental da nossa abordagem deve ser a transformação de ativos ambientais em ativos financeiros”, afirmou Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social da B3, durante o B3 Climate Day, que aconteceu nesta quarta-feira (20).
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“O fato de a conferência ser realizada aqui nos coloca em posição de protagonismo e responsabilidade”, destacou Janaína Vilella, da B3.
O mundo precisa de US$ 1,3 trilhão para frear as mudanças climáticas, destacou James Scriven, CEO do BID Invest. “A COP29, que aconteceu no ano passado em Baku, conseguiu aprovar US$ 300 bi em financiamento climático. É necessário, portanto, atrair mais de US$ 1 trilhão para fechar essa diferença”, disse durante o B3 Climate Day.
Segundo ele, o capital existe, mas está fora dos mercados emergentes. “Temos pessoas que buscam investir em soluções sustentáveis, mas, em sua maior parte, estão fora da nossa região. Precisamos unir esses dois lados. Os investidores estão fora de mercados emergentes, não entendem as moedas locais. Essa aproximação não vai acontecer sem nós, precisamos criar um ambiente para que as pessoas queiram investir aqui.”
Para atrair esses recursos, Scriven defende a criação de instrumentos que possam mitigar os riscos dessas operações. “Precisamos conseguir reduzir o risco desses deals. Muitos investidores precisam que os títulos tenham investment grade. Há investidores que aceitam correr risco de construção de soluções sustentáveis, como fazendas solares, mas não querem se expor a moedas de países emergentes. Por isso, é importante criar ferramentas que possam fazer o swap para reduzir o risco de câmbio para esses investidores.”
Viviane Romeiro, diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis do CEBDS, também destacou a necessidade de criar projetos financiáveis (bankable projects). “Nos últimos anos, desde a COP 26, em Glasgow, vimos um desdobramento muito importante, com diferentes setores produtivos engajados. O CEBDS vem fomentando e buscando trazer soluções tecnológicas, e trabalhando para que a gente tenha bankable projetcs. A ciência já avançou bastante, o desafio agora é dar escala na devida celeridade”, disse.
Outro ponto em que é preciso trabalhar é mostrar que os projetos sustentáveis também podem ser atrativos financeiramente, destacou Paula Kovarsky, co-chair da SBCOP30. “Temos que criar soluções rentáveis, para que a gente possa atrair o dinheiro e as competências necessárias para fazer isso acontecer. Juntar bons projetos ao bom dinheiro”, disse
Ana Costa, da Natura, trouxe o exemplo de iniciativas de financiamento comunitário que já funcionam na Amazônia. Segundo ela, hoje 20 comunidades usam um modelo de crédito com capacitação da população local e que tem apresentado resultados relevantes. Outro projeto permitiu criar nas próprias comunidades agroindústrias que produzem óleo e manteiga com 100% de energia solar. “Isso gerou mais 60% de renda com essas agroindústrias. Nosso desafio é escalar para que esse seja um novo modelo sustentável regenerativo, gerando renda e prosperidade para as comunidades.”
Usando exemplos do agronegócio, com a produção em escala de biodiesel, etanol de milho e etanol de trigo, Joaquim Levy, do Safra, destacou que as soluções sustentáveis já são realidade no Brasil, mas precisam ganhar tração: “Projetos como a produção de biodiesel, a expansão do etanol de milho e o início da produção de etanol de trigo são relevantes para a balança comercial no Brasil e criam emprego no país inteiro. Soluções sustentáveis já são realidade, ao mesmo tempo em que se está fazendo dinheiro, criando emprego.”
Mercado de carbono
Outro ponto discutido durante o evento foi o avanço na regulação do mercado de créditos de carbono no Brasil. “O tema de precificação de carbono é histórico e tem muitas décadas, é um sistema complexo e sofisticado. Para o Brasil, é um instrumento fundamental de transição para impulsionar o sistema e os agentes econômicos, especialmente pelas soluções baseadas na natureza”, disse Viviane.
Joaquim Levy afirmou que o mercado regulado é chave para a competitividade internacional do Brasil. “Um mercado regulado pode proteger indústrias brasileiras de CBAM [Carbon Border Adjustment Mechanism] e de outras medidas restritivas”, disse. Além disso, segundo Levy, na medida em que as empresas reduzirem as emissões ou compensarem com crédito de carbono, elas ganham competitividade internacional.
As oportunidades da COP30
Flora Bitancourt, da World Climate Foundation, reforçou a relevância de o Brasil ser anfitrião da Conferência das Nações Unidas. “Mostramos o Brasil como celeiro de oportunidade, como país rico em natureza e, com a COP na Amazônia, o Brasil está nessa vitrine. Não tem como não dar certo. A COP30 é esse espaço de avançar.”
Viviane Romeiro, que já participou de 19 COPs, destacou a evolução desses encontros e o maior engajamento do setor privado e da sociedade civil. “Nos primeiros anos, a conferência era mais específica, técnica e restrita — o que trouxe um arcabouço técnico importante, mas foi identificada a necessidade de fortalecer o engajamento do setor privado e da sociedade. Hoje vemos claramente uma agenda mais transversal, com adaptação climática, meios de implementação, transferência de tecnologia, capacity building e financiamento. Vejo o setor produtivo muito mais engajado.”
Com as empresas mais engajadas, Paula Kovarsky apontou que esta será a “COP da ação”. “A gente conseguiu que a iniciativa privada estivesse organizada para estar representada nas mais importantes discussões na COP. Essa COP tem como lema ser a COP da ação, e a iniciativa privada, no fim das contas, tem um papel gigantesco nas emissões, mas também tem competência importante de trazer do campo das ideias para o campo das ações”, resumiu.