AL KHOR, Catar (Reuters) – A Copa do Mundo começou neste domingo no Catar, com a nação muçulmana, que recebeu uma enxurrada de críticas pelo seu tratamento a trabalhadores imigrantes, direitos LGBT e restrições sociais, apostando sua reputação na realização de um torneio tranquilo.

Em uma demonstração de solidariedade, o príncipe da Arábia Saudita e os presidentes de Egito, Turquia e Argélia, além do secretário-geral da ONU, foram alguns dos líderes que compareceram à cerimônia de abertura da Copa em um estádio em formato de tenda, antes do primeiro jogo entre a seleção da casa e o Equador.

O Catar, que negou acusações de discriminação e abuso contra trabalhadores, e a Fifa esperam que as atenções agora se voltem para o que acontece em campo. Os organizadores também negaram acusações de corrupção para sediar o evento.

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Dentro do estádio Al Bayt, muitos lugares ainda estavam vazios para a partida entre o time da casa e o Equador, com a estrada que leva à arena congestionada.

No palco, o cantor Jungkook, da banda de K-pop, BTS, apresentou a nova música do torneio, ao lado do cantor catari, Fahad Al-Kubaisi.

A Copa do Mundo, a primeira realizada no Oriente Médio e a mais cara da história, é a culminação da estratégia de “soft power” do Catar, após um boicote de três anos e meio de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e Bahrein, que terminou em 2021.

Os Emirados Árabes, cuja reaproximação com Doha foi mais lenta do que as de Riyadh e Cairo, enviou seu vice-presidente, que também é o governante de Dubai, onde muitos torcedores da Copa do Mundo decidiram ficar.

Pela primeira vez, um voo comercial direto de Tel Aviv a Doha aterrissou no Catar neste domingo, apesar de não haver relações bilaterais entre os países, em um acordo mediado pela Fifa para transportar palestinos e israelenses ao torneio.

O vice-primeiro-ministro do Estado do Golfo, Khalid Al-Attiyah, disse em comentários à imprensa estatal que o Catar está colhendo os benefícios de anos de “trabalho duro e sólido planejamento”.

No sábado, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, rebateu os críticos europeus do Catar, dizendo que o engajamento é a única maneira de melhorar o respeito aos direitos humanos, e Doha também apontou para reformas trabalhistas.

Os capitães de Dinamarca e Alemanha utilizarão braçadeiras com a mensagem One Love em defesa dos direitos LGBT, preparando-se para competir em um país muçulmano conservador onde relações entre pessoas do mesmo sexo são ilegais. Os organizadores dizem que todos são bem-vindos, mas alertaram contra demonstrações públicas de afeto.

TORCEDORES

Uma multidão de torcedores já chegou ao Catar, mas o principal contingente é esperado para o fim da semana.

Daniel Oordt, da Holanda, vestido de laranja, disse à Reuters que havia um sentimento de “constante pressão para você não dizer a coisa errada ou fazer a coisa errada”. “Não é um clima divertido para ter uma Copa do Mundo.”

O torcedor da Argentina, Júlio César, no entanto, disse que espera um grande clima. “Vamos beber antes do jogo”, acrescentou, após a venda de bebidas alcoólicas nos estádios ser proibida.

Os turistas bebiam cerveja na Fan Fest da Fifa no centro de Doha. Na periferia da cidade, centenas de trabalhadores se reuniram em uma arena esportiva em uma zona industrial, sem álcool. Eles podem ver os jogos lá, sem recursos para entrar nos estádios que muitos deles trabalharam para construir, junto com outras infraestruturas para o evento.

“Claro que não comprei um ingresso. Eles são caros e eu deveria usar esse dinheiro para outras coisas – como mandar para casa, para minha família”, disse o cidadão ganense, Kasim, um guarda que trabalha no Catar há quatro anos, à Reuters.

O país exportador de gás é a menor nação a sediar o maior evento global do futebol. Controle da multidão será chave, com cerca de 1,2 milhão de visitantes esperados – mais de um terço da sua população.

Os trabalhadores estavam dando os últimos retoques à paisagem de Doha, inclusive colocando uma lona roxa em cima de um prédio inacabado perto do estádio onde a final será realizada.

No shopping Lagoona, os moradores estavam agindo normalmente.

“Eu vim agora porque não sei como será o trânsito no resto da semana”, disse a egípcia Esraa, que fazia compras.

(Por Andrew Mills e Maya Gebeily. Reportagem adicional de Yesim Dikmen, Thomas Suen, Gabrielle Tetrault-Farber, Ilze Filks e Karolos Grohmann em Doha e Omar Fhamy e Mahmoud Mourad no Cairo)