02/02/2022 - 19:36
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) elevou nesta quarta-feira (2) sua taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual a 10,75%, alcançando dois dígitos pela primeira vez em cinco anos, para frear uma inflação que seguiu “surpreendendo negativamente”.
Em linha com as expectativas do mercado, o Copom adotou, ao encerrar sua primeira reunião do ano, a oitava alta consecutiva da Selic desde março de 2021, apesar do impacto que representa para o crescimento da maior economia latino-americana, que está em recessão.
As autoridades do BCB afirmaram que “a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente” e destacaram ainda o desafio da “persistência inflacionária” na frente externa, que impactou o preço dos alimentos.
Este novo aumento da Selic, o terceiro desta magnitude após os adotados em outubro e dezembro passados, levou a taxa básica de juros a um nível que não era visto desde o segundo trimestre de 2017 (11,25%).
No entanto, o BC deu sinais de que está chegando ao fim o ciclo de altas ininterruptas, iniciado em março de 2021, quando a Selic estava em 2% após vários meses de um mínimo histórico para impulsionar uma economia deprimida pela pandemia.
“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, informou o Copom sobre seu curso de ação na próxima reunião, prevista para 15 de março.
As altas dos preços do varejo acumularam 10,06% em 2021, a pior disparada em seis anos. E embora se espere uma moderação este ano, as projeções sobre 5% superam o teto da meta do Banco Central (entre 3,5% e 5%) pelo segundo ano consecutivo.
Com as taxas em alta, as previsões de crescimento do PIB foram em direção oposta. O próprio Banco Central reduziu sua expectativa de crescimento de 2,1% a 1%, e o mercado espera apenas 0,30%, segundo o último boletim Focus, em comparação com uma expansão de cerca de 4,4% estimada para 2021.
– Ritmo menor adiante –
Um relatório do Itaú Unibanco, que acertou a dimensão deste aumento, destacou que a decisão “é consistente” com o objetivo da autoridade monetária.
Ou seja, “perseverar na estratégia de aperto monetário, avançando significativamente em território contracionista, até que haja consolidação, tanto do processo de desinflação quanto da ancoragem das expectativas em torno das metas”.
Mas também previu moderação no ritmo das altas.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse recentemente que o ciclo de altas “está chegando a um fim”, o que alguns economistas esperam para maio, ainda com desafios pela frente.
Ao final dos aumentos, a Selic poderia chegar a 12%, segundo pesquisa do jornal Valor com consultorias e instituições financeiras do mercado.
O cenário econômico será marcado este ano pela incerteza gerada pelas eleições gerais de outubro, nas quais o presidente Jair Bolsonaro tentará a reeleição, somadas ao persistente risco fiscal pelo aumento do gasto público.
Enquanto isso, alguns indicadores do último trimestre de 2021 atestaram uma melhora da atividade econômica com desempenhos acima do esperado, ponderou o Copom, que destacou a recuperação do mercado de trabalho.
O índice de desemprego baixou para 11,6% no trimestre setembro-novembro, embora com alta informalidade e salários menores.
O Comitê destacou, por outro lado, o desafio que representa um eventual ajuste monetário nos Estados Unidos, como anunciou o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a partir de março, impondo condições financeiras mais desafiadoras para as economias emergentes, e ponderou o possível impacto da pandemia, que bateu novos recordes de contágios no país nos últimos dias.