07/05/2025 - 21:12
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou, nesta quarta-feira (7), a taxa básica de juros da economia em meio ponto percentual, para 14,75%, seu nível mais alto em quase 20 anos, em um esforço para conter a inflação.
Os integrantes do Copom decidiram por unanimidade aplicar o sexto aumento consecutivo da Selic, uma medida que vai na contramão dos pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido um crítico aberto das altas taxas de juros.
Lula argumenta que as taxas elevadas impedem o crescimento econômico ao encarecerem o crédito para consumidores e investidores.
O aumento ocorre em um cenário internacional “adverso e particularmente incerto” devido à política comercial dos Estados Unidos, disse o Copom em um comunicado após dois dias de reuniões.
O comitê justificou sua decisão nas expectativas de inflação para o Brasil em 2025. Segundo a pesquisa Focus do Banco Central, o indicador se situará ao final do ano em 5,5%, acima da meta oficial (entre 1,5% e 4,5%).
O aumento era esperado pela maioria das mais de 100 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo jornal econômico Valor, e coloca a Selic em seu nível mais alto desde julho de 2006.
“A inflação continua fora da meta, a inflação de serviços muito alta, acima de 6%, o mercado de trabalho ainda muito aquecido e as expectativas muito desancoradas”, resumiu à AFP o economista Mauro Rochlin, coordenador acadêmico da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Em março, os preços no Brasil subiram 5,48% em relação ao mesmo mês de 2024.
– Incerteza e cautela –
O Copom retomou o ciclo de alta em setembro do ano passado, após dois anos de flexibilização.
Para sua próxima reunião, o comitê antecipou que o cenário de alta incerteza junto com os efeitos acumulados “ainda por serem observados” do atual ciclo de ajustes demandam “cautela adicional” ao tomar uma decisão.
Analistas sustentam que a inflação persistente explica em parte a queda de popularidade de Lula para o nível mais baixo em seus três mandatos, com uma taxa de aprovação de apenas 24%, segundo uma pesquisa publicada em fevereiro pelo instituto Datafolha.
O aumento no custo dos alimentos tem sido um fator crucial no repique inflacionário, o que levou o governo a anunciar no início de março medidas como a eliminação de tarifas de importação sobre produtos como carne, açúcar e café.
Mas o aumento da taxa Selic também ocorre num momento em que o Brasil mostra alguns bons indicadores econômicos, com um desemprego de 7% no primeiro trimestre de 2025 – o menor para esse período desde 2014 – e um crescimento econômico de 3,4% em 2024, seu melhor desempenho desde 2021.
Há “sinais que autorizam a se pensar em um processo de desinflação” no país, como um número menor de contratações em março, a valorização do real perante o dólar e a redução do custo de matérias-primas, particularmente o petróleo, apontou Rochlin, que considera “muito severa” a política monetária estabelecida pelo Copom.
O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, por sua vez, decidiu nesta quarta manter inalterados os juros de referência, ao considerar que existem riscos maiores de não alcançar as metas de inflação e desemprego, em uma aparente referência às tarifas do presidente Donald Trump.
Os juros básicos dos Estados Unidos estão atualmente na faixa entre 4,25% e 4,50%.