Como é de praxe, o Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (8) a Ata da 244ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 1º e 2 de fevereiro. A reunião elevou a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, e indicou uma alta adicional na próxima reunião, marcada para meados de março. E, na avaliação do Copom, vai demorar para os juros caírem.

A Ata divulgada nesta terça-feira é clara. O Copom avalia que o cenário internacional está ruim. Em seu linguajar neutro e técnico, o Copom começa a conversa dizendo que “A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes.” Ou seja, a vida vai ficar difícil para países como o Brasil, que dependem de dinheiro de fora.

Projeção para IPCA 2022 no cenário referência está em 5,4%, diz ata do Copom

Por aqui, as coisas também não estão muito positivas. Apesar de reconhecer uma melhora nos níveis de atividade econômica, a Ata informa que “os índices de confiança divulgados desde a última reunião seguem mostrando deterioração, e desenvolvimentos climáticos afetaram as projeções de importantes culturas agrícolas”. Tradução: os empresários não estão muito dispostos a investir, os consumidores estão reticentes em comprar e, para complicar, a comida vai continuar cara.

Os preços da energia, que atormentaram durante 2021, também não vão dar trégua. Para o Copom, os preços administrados, ou seja, as tarifas de serviços públicos como energia e água, vão continuar subindo. “As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022 e 5,4% para 2023”, informa a Ata. Ambos os percentuais estão acima do teto da meta de inflação, que é de 5% (3,5% mais 1,5 ponto percentual para mais ou para menos).

E, mais grave, na avaliação do Copom o governo continua gastando além da conta. Isso eleva o chamado prêmio de risco. Ou seja, o temor da inflação, que faz os empresários reajustarem preventivamente os preços e leva os investidores a pedir juros maiores para comprar títulos da dívida pública.

Como de costume, o Copom diz isso de uma maneira muito oblíqua. “O Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos”, informa a Ata. “Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas.” Em português corrente, isso quer dizer que os gastos aumentam o risco de inflação e podem obrigar o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo.

E, para complicar ainda mais o cenário, a Ata do Copom traz uma preocupação nova por parte do Comitê. Políticas pontuais como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos combustíveis podem até reduzir um pouco a inflação no curto prazo, mas a conta vai chegar. E, na avaliação do Copom, será salgada. “Adicionalmente, o Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva.” Ou seja, apertem os cintos, porque vai demorar para os juros caírem.