16/08/2022 - 0:21
A ciência e a tecnologia estão conseguindo resultados para estender a vida das pessoas por mais anos. No entanto, há, no meio de caminho, outras conquistas a fazer. Entre elas a resolução de doenças, como o câncer, ou incapacidades que afetam o ser humano. Nesse sentido, uma equipe de cientistas desenvolveu um implante de proteína de colágeno de pele de porco e os resultados foram espantosos. As 20 pessoas sujeitas a esta experiência recuperaram a visão.
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Uma equipe científica desenvolveu um implante de proteína de colágeno de pele de porco que se assemelha à córnea humana e, num estudo piloto, a técnica foi capaz de restaurar a visão a 20 pessoas com córneas doentes, a maioria das quais eram cegas antes de receberem o implante.
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O trabalho, realizado conjuntamente por pesquisadores da Universidade de Linköping (LiU) e da LinkoCare Life Sciences AB, ambas na Suécia, foi publicado em Nature Biotechnology. Segundo os autores, estes são “resultados promissores que trazem esperança àqueles que sofrem de cegueira da córnea e visão reduzida”.
O objetivo, dizem, é fornecer um implante bioengenharia como alternativa ao transplante de córneas humanas doadas, que estão em escassez nos países onde são mais necessárias.
“Os resultados demonstram que é possível desenvolver um biomaterial que cumpre todos os critérios para utilização como implante humano, que pode ser produzido e armazenado em massa até dois anos e assim atingir mais pessoas com deficiência visual”, explicou, de forma sucinta, Neil Lagali, cientista da LiU numa declaração.
Estima-se que 12,7 milhões de pessoas em todo o mundo são cegas porque as suas córneas, a camada transparente mais externa do olho, estão danificadas ou doentes, pelo que a sua única forma de recuperar a visão é receber um transplante de córnea de um dador humano.
Contudo, os números são reveladores das dificuldades. Apenas um em cada 70 pacientes recebe este transplante. Além disso, a maioria das pessoas necessitadas vive em países de baixo e médio rendimento, onde o acesso ao tratamento é muito limitado.
“Fizemos esforços significativos para assegurar que a nossa invenção esteja amplamente disponível e acessível a todos, não apenas aos ricos”, declarou Mehrdad Rafat, professor na LiU, fundador e CEO da empresa que fabrica as córneas bioengenharia utilizadas no estudo.
O que contém esta córnea “milagrosa”?
A córnea é constituída principalmente pelo colágeno proteico. Para criar uma alternativa à córnea humana, os pesquisadores utilizaram moléculas de colágeno derivadas da pele de porco, altamente purificadas e produzidas sob condições rigorosas para utilização em humanos. A pele de porco utilizada é um subproduto da indústria alimentar, tornando-a facilmente disponível e economicamente vantajosa, de acordo com os cientistas.
No processo de construção do implante, a equipa estabilizou as moléculas de colagénio soltas num material robusto e transparente que podia resistir à manipulação e implantação no olho. Embora as córneas doadas devam ser utilizadas no prazo de duas semanas, as córneas bioengenharia podem ser armazenadas por até dois anos antes da sua utilização.
Os pesquisadores também desenvolveram um novo método cirúrgico minimamente invasivo, no qual é feita uma pequena incisão através da qual o implante é inserido na córnea e não são necessários pontos.
O método cirúrgico e os implantes foram utilizados por cirurgiões no Irã e na Índia, onde muitas pessoas sofrem de cegueira córnea e visão reduzida, mas onde existe uma falta significativa de córneas doadas e de opções de tratamento.
Vinte pessoas cegas ou prestes a perder a visão devido ao queratocono avançado – uma condição em que a córnea se torna tão fina que pode levar à cegueira – participaram no estudo clínico piloto e receberam o implante de biomaterial.
As operações foram simples, o tecido sarou rapidamente e um tratamento de oito semanas de colírio imunossupressor foi suficiente para evitar a rejeição.
Antes de o implante poder ser utilizado no contexto dos cuidados de saúde, é necessário um estudo clínico mais amplo, seguido de aprovação pelas autoridades reguladoras.
Os pacientes foram acompanhados durante dois anos e não foram observadas complicações durante esse período.