03/02/2020 - 9:24
Depois de 10 dias fechadas, as bolsas chinesas despencaram nesta segunda-feira cerca de 8%, a queda mais importante em cinco anos, devido ao medo do impacto econômico da epidemia de pneumonia viral, e apesar das medidas do banco central.
A queda era previsível. As Bolsas de valores de Xangai e Shenzhen estavam fechadas para o feriado do Ano Novo Chinês desde 24 de janeiro, um dia após o isolamento da cidade de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus.
Durante esse período, os mercados mundiais também caíram, preocupados com as consequências da epidemia no crescimento da China, a segunda economia mundial, onde a atividade permanece paralisada pelo surto.
Nesse contexto, a Bolsa de Xangai fechou nesta segunda-feira com uma queda de 7,72%, a 2.746,61 pontos, enquanto a de Shenzhen, a segunda mais importante da China continental, perdeu 8,41%, a 1.609,00 pontos.
Esta é a queda mais forte desde o crash da bolsa de 2015.
“O pânico dos investidores se espalhou para todos os títulos e vai dominar o mercado no curto prazo”, afirma Yang Delong, economista do fundo de investimentos First Seafront.
Quase 3.500 valores do mercado de ações caíram 10%, quando as negociações são automaticamente suspensas, segundo dados da Bloomberg.
A epidemia, que já provocou mais mortes (362 confirmadas) do que o vírus da SARS em 2002-2003, também afeta os mercados de câmbio e commodities, que também reabriram nesta segunda-feira.
A moeda chinesa caiu 1,5% e ficou abaixo do limite simbólico de sete yuans por dólar, enquanto os preços do minério de ferro, cobre e petróleo foram suspensos porque caíram mais do que o máximo autorizado.
– Medidas do banco central –
Os mercados chineses deveriam reabrir na sexta-feira, mas o governo chinês estendeu o feriado de Ano Novo por três dias para tentar evitar as viagens de milhões de pessoas e conter o vírus.
Para conter o pânico, o Banco Central chinês (PBOC) anunciou no domingo uma injeção de 1,2 bilhão de yuans (175 milhões de dólares) no sistema financeiro.
Nesta segunda-feira, a instituição também reduziu a taxa preferencial aplicada aos bancos comerciais para empréstimos de curto prazo em 2,4% (comparado a 2,5% até agora).
Uma medida que poderia “aliviar a pressão sobre os bancos”, reduzindo seus custos de financiamento, segundo Julian Evans-Pritchard, da consultoria Capital Economics.
No entanto, “essa queda é muito marginal para reduzir substancialmente os danos à atividade econômica”, acrescenta o analista.
Enquanto isso, medidas para limitar a disseminação do vírus – confinamento, suspensão de conexões ferroviárias, fechamento de empresas e fábricas até 9 de fevereiro – continuam paralisando setores inteiros da economia chinesa e ameaçando as cadeias produtivas em todo o planeta.
– Ameaça para o crescimento –
Na Bolsa de Xangai, as ações da Foxconn Industrial Internet, que faz parte da gigante de eletrônicos taiwanesa Foxconn, caíram 10% nesta segunda.
A Foxconn, principal fornecedora da Apple, anunciou que suas fábricas na China só voltarão a operar em meados de fevereiro.
O consumo também está sendo afetado pelos muitos shopping centers e restaurantes fechados em todo o país.
As ações da agência de viagens CITS, bem como as das companhias aéreas Southern e China Eastern caíram 10%.
O governo chinês proibiu as viagens em grupo e muitas conexões entre a China e o resto do mundo permanecem suspensas.
O pânico do mercado de ações afetou todos os setores, exceto o de fabricantes de equipamentos médicos, como máscaras de proteção, alguns dos quais dispararam mais de 10%.
Vários analistas preveem um freio à economia chinesa neste trimestre, com crescimento abaixo de 5%, apontando que as medidas de Pequim são insuficientes.
O mercado de ações de Hong Kong, que já havia afundado na semana passada, terminou nesta segunda-feira estável (+0,17%, a 26.356,98 pontos). Já a Bolsa de Tóquio perdeu 1,01%, a 22.971,94 pontos.