01/04/2020 - 9:25
A cidade montanhosa de Khumjung, no Himalaia, deveria estar lotada um pouco antes do início da temporada de escalada do Everest, mas o coronavírus forçou o “fechamento” da maior montanha do planeta e ameaça o sustento dos famosos sherpas locais.
Apesar da ausência de casos do vírus na localidade – onde vive a etnia dos sherpas, colaboradores essenciais para os alpinistas do Everest – a atividade na cadeia de montanhas está paralisada devido ao fechamento global das fronteiras e da suspensão dos voos.
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Phurba Nyamgal Sherpa – que escala o Everest e outras montanhas desde que tinha 17 anos – está preocupado com o futuro, assim como centenas de outros guias e trabalhadores de expedições na região.
O equipamento de escalada está inutilizado dentro das casas de Khumjung. Os hotéis e “tea shops” destinados aos turistas e montanhistas estão vazios, algo inimaginável em outros anos às vésperas do início da temporada de ataque ao topo do Everest, de 8.848 metros de altura.
O Nepal suspendeu em 12 de março as autorizações para todas as expedições em suas montanhas.
A situação representa uma perda de pelo menos quatro milhões de dólares em permissões de escalada ao Everest: cada uma custa 11.000 dólares.
Sherpa e outros guias, cujas atividades geralmente representam o único sustento de suas famílias, enfrentam um problema ainda maior.
De fato, a temporada do Everest, do início de abril ao fim de maio, permite alimentar as famílias dos sherpas durante todo o ano, graças aos seus ganhos, que oscilam no período entre 5.000 e 10.000 dólares.
“Não vamos às montanhas porque queremos, esta é nossa única maneira de trabalhar”, declarou Sherpa à AFP em sua casa, onde mora com a esposa e o filho de seis anos.
Sherpa, 31 anos, chegou ao topo do Everest oito vezes e ajudou dezenas de pessoas a escalar a maior montanha do mundo.
No ano passado, a temporada registrou um recorde de 885 pessoas no topo do Everest, 644 delas escalando a partir do lado nepalês.
Mas o coronavírus deixou os acampamentos base desertos.
Namche Bazaar, a última localidade antes dos acampamentos, também está deserta.
Os sherpas não são os únicos afetados. O turismo contribui com quase 8% para o PIB do Nepal e gera quase um milhão de empregos.
O Nepal, que ainda se recupera de um terremoto devastador em 2015, esperava atrair este ano o número recorde de dois milhões de turistas.
Apesar das dificuldades, os moradores da região do Everest concordam com a decisão do governo. O risco de infecção é real.
Na temporada de escaladas, centenas de montanhistas e sherpas nepaleses convivem em condições de proximidade.
Além disso, à medida que o ar se torna mais rarefeito é cada vez mais difícil respirar em altitudes elevadas, o que representa um sério risco adicional a uma epidemia de qualquer tipo.
O renomado alpinista Phurba Tashi Sherpa, que escalou o Everest 21 vezes, afirma que o coronavírus provocaria um verdadeiro caos em caso de propagação nas cidades do Himalaia.
“Embora custe o nosso trabalho, é uma boa decisão”, disse.