28/05/2025 - 16:03
Cinco investigados foram presos pela Polícia Federal nesta quarta-feira, 28, por suspeita de envolvimento com o grupo de extermínio que teria assassinado o advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, em dezembro de 2023. O Estadão busca contato com as defesas.
Segundo a PF, trata-se de uma organização criminosa especializada em espionagem e execuções sob encomenda. O grupo se autodenominava C4 (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos).
Um lista com nomes de parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foi encontrada com os investigados. A PF procura agora descobrir se houve de fato alguma articulação de atentado contra autoridades.
O grupo tinha também uma tabela de preços a cobrar por execução. Os valores chegavam a R$ 250 mil – no caso de senadores, R$ 150 mil; deputados, R$ 100 mil. Os valores constam de anotações encontradas com investigados.
Roberto Zampieri foi morto a tiros na porta do seu escritório de advocacia em Cuiabá, em dezembro de 2023. O advogado foi atingido por oito tiros à queima-roupa.
O “lobista dos tribunais” foi o pivô da investigação sobre a venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mensagens encontradas no celular dele levantaram suspeitas da compra de decisões e deram início ao inquérito.
Veja quem foi preso pela Polícia Federal:
Aníbal Manoel Laurindo
O fazendeiro foi indiciado pela Polícia Civil de Mato Grosso como mandante do assassinato do advogado Roberto Zampieri. O crime teria sido motivado por uma disputa fundiária em torno da Fazenda Lagoa Azul, propriedade com cinco mil hectares em Ribeirão Cascalheiras, a 960 quilômetros de Cuiabá.
Antônio Gomes da Silva
Foi preso e indiciado como o pistoleiro que matou Zampieri. Ele confessou o crime e disse que receberia R$ 40 mil pelo serviço. Para se aproximar do advogado e armar a emboscada, se apresentou como capelão e usou boina e bengala como disfarce. Testemunhas o reconheceram e imagens de circuito de segurança o flagraram.
Em depoimento à Polícia Civil de Mato Grosso, o matador de aluguel afirmou que “não se arrepende do crime”. Chamou de “merda” o assassinato, segundo ele, “mal feito” por causa da “pressa” dos mandantes. Também detalhou aos investigadores que pretendia eliminar o advogado “longe do escritório, para não ter dificuldade para fugir”, mas não conseguiu ficar sozinho com ele em algum local mais afastado.
Hedilerson Fialho Martins Barbosa
O instrutor de tiro era dono da pistola 9 milímetros usada no crime. A arma teria sido descartada em uma lixeira em uma parada de ônibus em Rondonópolis, segundo a versão do atirador. Em depoimento à Polícia Civil de Cuiabá, Barbosa confessou que “indicou” o pistoleiro para o serviço e alegou que não recebeu nada para emprestar a pistola.
Etevaldo Caçadini de Vargas
O coronel reformado também é acusado de participar do crime. Segundo o pistoleiro, foi ele quem pagou um sinal de R$ 20 mil pelo assassinato. Caçadini alegou em depoimento à Polícia Civil que o assassino do advogado foi apresentado a ele como pedreiro e negou envolvimento na execução.
O coronel declarou que conheceu Roberto Zampieri em uma reunião em 2011 e que depois disso nunca mais teve contato com o advogado. Os investigadores encontraram no celular dele uma foto do endereço do criminalista. O coronel fez uso do direito ao silêncio e não quis comentar a imagem.
Caçadini é dono do canal Frente Ampla Patriótica, criada após o 8 de Janeiro. Além de grupos no WhatsApp, há um canal no YouTube para, segundo ele, reunir “patriotas e conservadores do Brasil”. O coronel publicou 101 vídeos na plataforma desde então e defendeu abertamente ideias golpistas.
Gilberto Louzada da Silva
Se apresenta como sargento reformado, consultor de segurança patrimonial e privada, especialista em armas e instrutor de tiro certificado pelo Exército.
COM A PALAVRA, AS DEFESAS
A reportagem pediu manifestação das defesas de defesas Aníbal e de Caçadini e buscou contato com os demais até a publicação deste texto, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).