10/11/2025 - 17:07
O presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), André Corrêa do Lago, destacou o protagonismo da China no investimento em energia limpa e os consequentes ganhos coletivos desse esforço. Ele disse que o gigante asiático abraçou a agenda climática de uma forma “extraordinária” e demonstrou que o clima vai além da questão ambiental, evidenciando que há também uma lógica econômica.
“A China se tornou muito importante em energia solar, elétrica, baterias. Nesse campo, fez um trabalho incrível de cooperação internacional com a redução dos preços”, afirmou, observando que um painel solar ficou acessível à população de países mais pobres. “A China traz uma contribuição significativa. Tem tecnologia e escala para produzir”, afirmou.
Corrêa do Lago disse que está muito feliz pela participação do empresariado na COP30 e que os recursos privados são altamente relevantes para o financiamento climático. “O setor privado pode ajudar a conduzir algumas decisões dentro dos países e assim podem contribuir a mobilizar mais recursos soberanos”, afirmou.
Ele ponderou, contudo, que é importante conduzir a discussão sobre recursos privados e públicos com seriedade. “O progresso que fizemos com recursos privados não pode ser interpretado na forma errada, ou seja, que pode vir a substituir o dinheiro público”, disse. Ele reforçou que os recursos soberanos precisam servir de alavanca para o dinheiro privado.
As presidências da COP29 do Azerbaijão e da COP30 do Brasil anunciaram na semana passada o chamado “Mapa do Caminho de Baku a Belém, um plano para mobilizar US$1,3 trilhão por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035. A meta vai exigir esforços significativos tanto de fontes tradicionais quanto da criação de mecanismos financeiros novos, em um momento de crise no multilateralismo.
Desafios diferentes
O presidente da COP30 afirmou que é preciso colocar em perspectiva o fato de os países em desenvolvimento terem de lidar com outros desafios. “Os países desenvolvidos já têm um equilíbrio entre desenvolvimento social e econômico. Assim, eles olham para a transição de uma forma diferente do que os países do Sul global”, afirmou. E acrescentou: “Os países em desenvolvimento têm as agendas sociais e a climática ao mesmo tempo para elucidar”, disse.
“Os países em desenvolvimento estão fazendo grandes avanços na agenda climática e farão muito mais se tiverem os recursos financeiros vindos dos países desenvolvidos”, afirmou.
Para ele, o Brasil é um exemplo desse cenário. De um lado, lida com a questão da pobreza. De outro, tem o caso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), iniciativa pública com notoriedade em ciência e avanços na agropecuária.
Agenda de discussão na COP30
Para conseguir adotar a agenda, a presidência da COP30 fez uma manobra e destacou os temas polêmicos para discussão separada. Com isso, os tópicos relacionados ao financiamento, às medidas de unilaterais de comércio, às metas climáticas dos países (NDC, na sigla em inglês) e aos relatórios de transparência (BTR, na sigla em inglês) vão ser abordados em consultas diretas com a presidência da COP. Na quarta-feira, a presidência fará uma devolutiva sobre o tema.
As medidas unilaterais de comércio são um tema sensível sobretudo para a União Europeia, que costuma praticar ações protecionistas utilizando supostas infrações ambientais dos países em desenvolvimento como argumento.
Em uma carta na última sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu esse tipo de medida para “que o comércio volte a unir as nações, em vez de dividi-las”.