16/11/2025 - 15:42
O presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, afirmou nste domingo (16) que vai levar as reivindicações da Cúpula dos Povos para as reuniões de alto nível da COP que serão realizadas nesta semana. Corrêa do Lago discursou durante o encerramento da Cúpula dos Povos.
O presidente da conferência recebeu do comitê político da Cúpula dos Povos a carta final com sugestões dos participantes e cobrança por maior participação popular nos debates sobre a crise de emergência climática. Corrêa do Lago respondeu ressaltando as dificuldades de negociação em torno de diversos temas, mas disse acreditar que houve maior participação da sociedade.
Notícias relacionadas:
- Ao encerrar Cúpula dos Povos, Cacique Raoni pede que luta continue.
- Marcha pelo Clima reúne 70 mil e leva força amazônica às ruas de Belém.
- Indígenas sul-americanos se unem em Belém por territórios e direitos.
“Vocês sabem que isso [a COP] é basicamente uma grande negociação dentro das Nações Unidas, com 195 países que têm que estar de acordo com tudo, porque é tudo por consenso. Então, é uma negociação superdifícil. Mas saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional”, disse.
“Por isso, eu agradeço a vocês por esse trabalho, que eu registrarei, na abertura da reunião de alto nível, que começa, amanhã, na COP. Fico muito, muito feliz de poder presidir essa COP com esse apoio que eu estou sentindo aqui hoje”, acrescentou.
O embaixador recebeu ainda uma carta da Cúpula das Infâncias, documento elaborado por cerca de 700 crianças e adolescentes que participaram de atividades na Cúpula dos Povos. No documento, as crianças expressaram temor pelo futuro, se não houver ações práticas para conter a crise de emergência climática.
“Para que as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo”, diz trecho da carta.
“Somos muitos e muitas crianças e adolescentes, cada uma com um jeito, um desenho, uma fala, um sonho. Mas todas com o mesmo ideal, por dentro do nosso planeta, agora, queremos continuar vivos e vivas, crescer no mundo bonito, no mundo que ainda respire, com esperança e sem medo”, continua o documento.
Carta
A carta final da Cúpula dos Povos critica o que os participantes classificaram como “falsas soluções” para o enfrentamento da emergência climática.
“Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, de lutas e de cooperação entre nossos povos”.
“As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções”, diz o documento.
A carta aponta o modo de produção capitalista como causa principal da crise climática crescente e ressalta que as comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e o racismo ambiental.
O texto final da cúpula lembra que as empresas transnacionais, a exemplo das indústrias de mineração, energia, armas, agronegócio e Big Techs, são as principais responsáveis pela catástrofe climática.
A carta pede a demarcação de terras indígenas e de outros povos; reforma agrária e fomento à agroecologia; fim do uso de combustíveis fósseis; financiamento público para uma transição justa, com taxação das corporações, agronegócio e dos mais ricos; e fim das guerras. Além disso, cobra maior participação dos povos.
“Cobramos que haja participação e protagonismo dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais. A multidiversidade de culturas e de cosmovisões, carrega sabedoria e conhecimentos ancestrais que os Estados devem reconhecer como referências para soluções às múltiplas crises que assolam a humanidade e a Mãe Natureza.
Movimentos sociais
A Cúpula dos Povos reuniu cerca 70 mil pessoas de movimentos sociais locais, nacionais e internacionais, povos originários e tradicionais, camponeses/as, indígenas, quilombolas, pescadores/as, extrativistas, marisqueiras, trabalhadores/as da cidade, sindicalistas, população em situação de rua, quebradeiras de coco babaçu, povos de terreiro, mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, jovens, afrodescendentes, pessoas idosas, dos povos da floresta, do campo, das periferias, dos mares, rios, lagos e mangues.
O evento, considerado o maior espaço de participação social da conferência climática, começou no dia 12, em paralelo à COP30, com críticas pela ausência de maior participação popular na conferência. Para as cerca de 1,3 mil organizações e movimentos que participaram da cúpula, países e tomadores de decisão, especialmente dos países ricos, têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
Na abertura, foi realizada uma “barqueata” na orla da capital paraense, com centenas de barcos. Eles navegaram pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais.
Ontem, cerca de 70 mil pessoas participaram da Marcha Mundial pelo Clima, manifestação que tomou as ruas de Belém com uma amostra expressiva da diversidade cultural e social do povo amazônico.
Após os cinco dias de debates, mobilizações e manifestações que marcaram Belém, a Cúpula termina com um “banquetaço”, na Praça da República, no centro da capital paraenses, com a distribuição de comida, feita pelas cozinhas comunitárias, e celebração cultural aberta ao público.