21/01/2004 - 8:00
Teresa Fittipaldi chega triunfante ao trabalho. Bem vestida, elegantérrima, desce de um Mercedes prata regiamente conduzido por um motorista. Os cabelos e a maquiagem estão impecáveis. Sorri e com um esgar de euforia expõe a alegria. Está feliz porque acabara de vender duas coberturas em bairros nobres
de São Paulo. ?Tenho vários filhos de amigos na idade de morar sozinhos?, diz. São apartamentos que chegam a custar até R$ 10 milhões. Teresa, que aproveita também suas andanças para negociar jóias de sua própria autoria, recebe 6% do total de cada negócio, na forma de comissão. Ela é uma private broker ? a expressão, em inglês, que define as corretoras de luxo da imobiliária Coelho da Fonseca, de São Paulo.
Nesse mercado de luxo, compradores e vendedores têm se misturado com velocidade. É um conceito de venda, construído por gente da classe A, criado pela Daslu, a famosa loja paulista de grifes requintadas. Nela, jovens da alta sociedade compõem o quadro de funcionárias. As moças ficaram conhecidas como dasluzetes.
?Trouxe esse conceito para o mercado imobiliário?, diz Álvaro
Coelho da Fonseca, dono da imobiliária, pioneiro na iniciativa,
que agora conquista também outros escritórios, como a Lopes Private, a Local e a Axpe. ?Convidei amigas para trabalhar
comigo?, resume Coelho da Fonseca.
E que amigas. A equipe de private brokers é uma espécie de catálogo de sobrenomes poderosos de São Paulo, um who?s who de fina estampa: Campelo, Bordon, Paim de Andrade, além de Fittipaldi, entre outros. As corretoras de luxo são ou foram personagens da elite que acabam de ingressar na venda de imóveis de alto padrão. ?Não perco meu tempo, dinheiro é fundamental?, resume Teresa.
Para a clientela endinheirada, o atendimento vip traz vantagens.
Pela afinidade com o padrão de vida dos compradores, o private broker tem mais chance de acertar na escolha dos empreendimen-
tos. As oportunidades de bons investimentos imobiliários também surgem com mais facilidade. Pode ser durante uma festa, uma
viagem entre amigos ou até num almoço em família. Os números provam a eficiência do trabalho dessas socialites. O prazo médio
de venda dos imóveis de altíssimo padrão caiu de dois anos para
seis meses na Coelho da Fonseca.
Na semana passada, Letícia Coelho da Fonseca, irmã do dono da imobiliária, vangloriava-se de um feito. ?Negociei um apartamento de R$ 6 milhões para uma vendedora da Daslu?, exulta. Recebeu um naco de R$ 360 mil de comissão. ?Só vendo o que eu gosto, mas tenho acertado em cheio?, afirma Cláudia Affonso Ferreira. Ela encontrou o apartamento ideal de R$ 2 milhões para um amigo que acabou de retornar dos Estados Unidos. ?É perfeito, fiquei até com vontade de comprar para mim?, afirma.
Na empreitada, as vendedoras de escol amparam-se numa outra característica que as destacam dos mortais comuns ? aproveitam, com elegância, das amizades do tempo em que eram casadas com ricaços. São ?ex? de alguém importante, mas sabem que não podem permanecer ancoradas no passado e, com dignidade, vão à luta. Cláudia Affonso Ferreira, por exemplo, criou uma rede de possíveis compradores a partir dos laços construídos em seu casamento com um empresário do setor financeiro. A agenda de Daisy Paim de Andrade repercutiu com a força de uma britadeira. ?Pertenci a uma família do setor de construção e incorporação de imóveis?, resume. Com os seus contatos, Daisy angariou, entre os amigos do seu ex-marido, dois grandes empreendimentos comerciais para a corretora. ?Envolveu muito dinheiro?, diz.
Entre os privates, o foco do negócio varia de acordo com os relacionamentos sociais ? e até a quantidade de milhagem aérea ajuda a encaminhar os negócios. Algumas delas seguem, portanto, carreira internacional. Sobrinha do conde Chiquinho Scarpa, Adelita Scarpa vende para brasileiros mansões em Punta Del Leste, no Uruguai. É, sem dúvida, excelente negócio para uma fatia da sociedade que desconhece o significado da expressão crise.
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