16/04/2008 - 7:00
SANTIAGO, A CAPITAL chilena, estava repleta de russos, americanos e israelenses na semana passada. Eram eles os vendedores da Feira Internacional Aeroespacial, que exibia para potenciais clientes latinoamericanos as últimas novidades em matéria militar. O interesse é natural. A região nunca investiu tanto quanto nos últimos anos. Seja por uma corrida armamentista provocada pelos arroubos do coronel Hugo Chávez, seja por um reequipamento das obsoletas Forças Armadas, a América Latina investiu mais de US$ 35 bilhões em armas no ano passado, de acordo com o Stockholm International Peace Research Institute. O líder inconteste ainda é o Brasil, com um orçamento de R$ 9,1 bilhões, além de outro R$ 1 bilhão durante oito anos para a conclusão do projeto do submarino nuclear. Até 2021, poderá haver investimentos totais de R$ 16 bilhões. Grande parte desse dinheiro, no entanto, vai para o pagamento dos soldos e pouco sobra para o reequipamento em si. É o contrário do que ocorre na Venezuela. Até 2010, Chávez quer ter garantido o fornecimento de 120 aviões de combate, 15 submarinos lançadores de mísseis, 138 navios, 25 radares tridimensionais e fábricas inteiras para a produção de sistemas de defesa. ?Tínhamos um arsenal obsoleto que não poderia ser consertado por conta das pressões americanas?, justifica o comandante da reserva venezuelano Héctor Herrera.
O Chile também segue a tendência. Gasta US$ 3 bilhões anuais e tem a lei do cobre, estipulando que 10% da receita bruta proveniente das exportações do metal seja destinada às Forças Armadas. Com isso, o Chile comprou recentemente 16 caças F-16 dos Estados Unidos, tanques alemães Leopardo II e investe na profissionalização de seu efetivo. O lance mais recente é a aquisição de 12 aviões de treinamento. A concorrência está entre os PC-21 da suíça Pilatus e os Super Tucano da Embraer. Mesmo com o sucesso demonstrado na operação colombiana que atacou um acampamento das Farc em território equatoriano, utilizando os turboélices brasileiros, a Embraer ainda não fechou o contrato. ?Corremos por fora?, disse à DINHEIRO Luiz Carlos Aguiar, vice-presidente da Embraer.
Quem também tem buscado aproveitar oportunidades é a gigante franco-alemã EADS, que controla a Airbus e tem participação na Dassault. No ano passado, o conglomerado vendeu ? 756 milhões na região apenas em materiais bélicos. E pretende reforçar o caixa apostando no Brasil, onde mantém a Helibrás, única fabricante de helicópteros da América Latina. A idéia é dobrar a produção, usando a fábrica em Minas Gerais, como plataforma de exportação das aeronaves. A multinacional também está interessada no projeto FX-2, de renovação de caças supersônicos, por meio dos Rafale. Executivos da empresa têm feito constantes, porém discretas, intervenções junto ao comando da Aeronáutica. Quem também espera por uma decisão breve é a Embraer, que, associada à Dassault, poderá ser beneficiada pela concorrência. ?Passou a época de trocar avião por carne?, brinca Aguiar, da Embraer. ?Hoje, interessa muito mais ao País a tecnologia que será transferida.? A resposta, independentemente de qual seja, deverá sair em setembro deste ano, quando o ministro Nelson Jobim divulgará o Plano Nacional da Defesa, que deve ampliar ainda mais os investimentos brasileiros. Sabe-se que, além dos caças, o plano irá incluir a compra de novos helicópteros, tanques, blindados e também, é claro, do submarino nuclear.