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58,24% foi quanto perdeu o Legg Mason Value Trust Fund no ano passado

 

Finanças Comportamentais é o tema da moda no mercado financeiro. Após o céu dos ativos despencar sobre as cabeças dos investidores em 2008, a disciplina tornou-se ainda mais importante. Afinal, entender o comportamento do investidor e o que influencia sua tomada de decisão é o sonho encantado de qualquer gestor. No Brasil, esse tema ainda engatinha e possui alguns focos de estudo nas universidades. Já no Exterior, há até mesmo hedge funds (fundos multimercados) que possuem sua estratégia desenhada de acordo com princípios de finanças comportamentais. Eles não são novidade e muitos já existem desde antes de 2006. O JP Morgan é um dos pioneiros e mais experientes no produto. Outras gestoras americanas, como a Legg Mason Asset Management e a LSV, também comercializam fundos com essas características lá fora. Eles prometem identificar anomalias recorrentes no comportamento dos investidores e, ao reconhecê-las, antecipar-se a elas. Parece interessante racionalizar as decisões do ser humano, mas nem sempre dá certo.

Os investidores dificilmente tomam decisões com base na razão. Geralmente, são guiados pelo medo, culpa ou ansiedade. Essas decisões emocionais geram anomalias nos mercados e fazem muitas ações baratas terem melhor performance do que as mais caras durante um período. A explicação é simples: os investidores compram as mais baratas para colher ganhos maiores. Essas mesmas emoções o fazem também vender boas ações (blue chips), mesmo sabendo que os fundamentos continuam bons, assim como a possibilidade de valorização. Por quê? Porque não querem correr o risco de perder o que já acumularam. E é justamente com essas duas variáveis comportamentais que os gestores dos fundos comportamentais trabalham. Utilizando estatísticas colhidas em determinados períodos, um software determina a frequência do comportamento do investidor e permite que os fundos compram e vendam papéis com o objetivo de superar os principais índices do mercado, como o Dow Jones e o S&P 500.

 

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Segundo Fabio Gallo, professor de Finanças da FGV, essa estratégia é interessante, apesar de paradoxal. “Eles utilizam a irracionalidade do investidor para fazer uma fórmula racional”, diz o especialista, que coordena um núcleo de estudos sobre Finanças Comportamentais. No entanto, mesmo apostando no conhecimento do comportamento humano, tais produtos não fugiram à regra e se deram mal durante a crise. Na maioria dos casos, oscilaram na mesma cadência que o Dow Jones ou o S&P. Apenas o Japan BF Equity Fund, do JP Morgan, sobressaiu-se e perdeu “somente” 27,86% entre janeiro de 2008 e 24 de junho deste ano, enquanto o S&P 500 caiu 38,94% no mesmo período (veja quadro acima). Questionáveis ou não, os fundos comportamentais existem e, quando chegarem por aqui, podem ser uma opção diferente para o investidor ávido por diversificação e com um lado emocional, digamos, equilibrado para ir na direção contrária do mercado.