24/01/2025 - 7:45
Apesar de um imbróglio com a gestão municipal da cidade de São Paulo, tanto a Uber quanto a 99 tem mantido o serviço de mototáxi. A primeira a retomar o serviço na capital paulista foi a 99, que completará dez dias de operação nesta sexta-feira, 24.
Nestes primeiros dias, tem relatado preços baixos e surpreendentes nas corridas de mototáxi – em partes, pela utilização de cupons de desconto ou vouchers.
+ Entenda a volta do serviço de mototáxi e a queda de braço entre Nunes e 99 e Uber
Nas redes sociais, internautas relatam preços abaixo de R$ 5 ou até mesmo na casa dos centavos para pedir um mototáxi em São Paulo. Veja abaixo:
O que dizem as empresas
O site IstoÉ Dinheiro entrou em contato com a Uber e a 99 para entender a política de preços.
A 99 garantiu que, apesar dos preços baixos e do desconto, há um valor mínimo assegurado ao motociclista parceiro pelo aplicativo. Ou seja, em uma corrida de centavos, mesmo assim o motociclista receberia um valor maior, que é subsidiado pela própria empresa de mobilidade.
“No momento, a 99 tem apresentado a categoria 99Moto para novos usuários por meio de cupons disponibilizados no aplicativo, além de comunicação via app para motociclistas, que agora também podem realizar o transporte de passageiros”, diz a empresa, em nota.
Até o fechamento desta reportagem, a Uber não se manifestou sobre os preços. Usuários tem relatado receber cupons de R$ 10 para utilizar nas suas primeiras experiências com o serviço.
Ao anunciar a volta do serviço nesta semana, a Uber informou preços em média 40% mais baixos do que o UberX.
Mototáxi é legal na cidade de São Paulo?
Desde o lançamento do serviço, a Prefeitura de São Paulo tem feito uma ofensiva, todavia as empresas seguem com a oferta de corridas de moto por aplicativo.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), criticou a empresa e a chamou de ‘assassina’ em uma ocasião.
“Nós não vamos permitir que essa empresa venha para cá e faça uma carnificina. São assassinos. Essas empresas são empresas assassinas e irresponsáveis”, disse o mandatário, em entrevista coletiva à imprensa.
Apesar do decreto municipal, a empresa de mobilidade usa de respaldo uma legislação federal que estabelece que as prefeituras podem regulamentar e fiscalizar a atividade com exigências específicas, mas não têm necessariamente o poder de realizar uma proibição.
Além disso, cita que já existem 20 decisões judiciais confirmando esse entendimento sobre a legalidade da categoria, incluindo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2019, que firmou a impossibilidade de proibição, por se tratar de ‘atividade legítima exercida de livre iniciativa e autorizada pela Constituição’.
Com uma semana de operação, a 99 relatou já ter ultrapassado a marca de 200 mil viagens dessa modalidade em SP.
Bruno Rossini, diretor de Comunicação da 99, disse em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro que a legislação atual respalda a atividade da companhia nos 3,3 mil municípios em que a empresa opera – e deveria respaldar também em São Paulo.
Os dados internos da empresa mostram que 0,0003% desse total apresentou casos de acidentes de trânsito – número que a companhia considera pequeno.
No dia 20 de janeiro, uma decisão da Justiça de São Paulo determinou que a Prefeitura tem competência para fiscalizar a atividade.
O desembargador Eduardo Gouvêa, da 7ª Câmara de Direito Público, contrariou a 99, que tentava obter uma liminar para barrar o decreto da gestão municipal. Todavia, na última decisão judicial até então, a 99 foi favorecida.
A 8ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo chegou a suspender o serviço de mototáxi da 99 na capital paulista, mas as motos seguiram circulando.
A Prefeitura pedia à Justiça uma multa de R$ 1 milhão por dia à 99, por a empresa oferecer o serviço – que agora é visado pela Uber. Todavia, a Justiça de São Paulo indeferiu esse pedido de tutela antecipada feito pela Prefeitura da capital para multar a 99 pelo serviço de transporte de passageiro por motocicletas. A decisão foi do juiz Josué Vilela Pimentel, da 8ª Vara de Fazenda Pública, a partir de uma ação civil pública apresentada pela Prefeitura.
De acordo com o magistrado, “resta pacificado pelo julgamento do Tema 967 do STF que é inconstitucional a proibição ou restrição de transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo, por constituir violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência”.
Na decisão, o juiz também apontou para julgamentos anteriores de outros municípios e estados que consideraram inconstitucionais leis que tentaram proibir o serviço.
Veja a cronologia das decisões:
- A 99 pediu na 8ª Vara da Fazenda Pública um mandado de segurança para proteger as viagens contra as ameaças da Prefeitura
- A 8ª Vara indeferiu o pedido da 99 sem analisar a legalidade. O tribunal não considerou que existe ameaça urgente contra a empresa
- A Prefeitura passou a apreender motocicletas em São Paulo com base no decreto nº 62.144/2023, que contraria legislação federal
- Também passou a multar condutores em mais de 7 mil reais utilizando a lei municipal 16.344/16, que não trata de corridas privadas intermediadas por aplicativos, mas sim de mototáxis – uma categoria diferente
- A 99 fez pedido de agravo no TJSP contra a decisão da 8ª Vara. Posteriormente, esse agravo foi indeferido porque o magistrado não enxergou ameaça ao serviço. A decisão não tratou da legalidade da modalidade
- É publicada na terça-feira, 21, a primeira decisão sobre o caso que trata sobre o mérito da categoria
Vale destacar que, no passado, o serviço em questão chegou a ser lançando em SP – e também na cidade do Rio de Janeiro – por volta de janeiro de 2023. Já nessa época a gestão municipal de São Paulo se mostrava contrária à atividade.
O Comitê Municipal de Uso Viário (CMUV) notificou a 99 sobre a suspensão das viagens feitas por motocicletas. O comitê ainda sinalizou que quem oferecesse o serviço estaria sujeito a sanções administrativas, multa e até perder a licença para operar na cidade.
Depois disso, foi então publicado o decreto municipal da gestão de Nunes, que é utilizado até hoje pela gestão para tentar coibir a exploração do serviço de mototáxi.