25/03/2022 - 9:08
A ilha francesa da Córsega se despede, nesta sexta-feira (25), de Yvan Colonna, um famoso separatista que morreu após uma agressão brutal na prisão, em meio a controvérsias sobre considerá-lo um mártir, ou um assassino.
Colonna cumpria pena de prisão perpétua em um presídio em Arles (sul) pelo assassinato do prefeito Claude Erignac em 1998, quando foi atacado, em 2 de março, por um preso apresentado como jihadista. Ele faleceu 19 dias depois, aos 61 anos.
A agressão gerou manifestações e distúrbios durante dias nesta ilha de 350 mil habitantes, que se acalmou quando o governo francês propôs negociar uma “autonomia” para esta região.
A tensão voltou à Córsega, porém, com a morte em Marselha de Colonna e as homenagens. O presidente francês, Emmanuel Macron, considerou uma “falta” que as autoridades regionais tenham baixado as bandeiras a meio pau na terça-feira (22).
Seu ministro do Interior, Gérald Darmanin, foi mais explícito na noite de quinta-feira na televisão, considerando a homenagem como “uma espécie de insulto à família de Erignac, ao Estado e seus representantes”.
Em sinal de “solidariedade”, o partido Femu a Corsica, do chefe do governo regional, Gilles Simeoni (nacionalista), pediu para baixar as bandeiras e observar um minuto de silêncio, nesta sexta-feira (25), na hora do funeral.
– “Membro da família” –
O corpo sem vida de Colonna, que sempre negou o crime contra Erignac, chegou à Córsega na noite de quarta-feira, dois dias após o anúncio de sua morte. Em vida, ele nunca realizou seu desejo de ser transferido para as prisões da ilha.
Seu caixão foi recebido por uma guarda de honra em Ajaccio, capital regional, e devia ser transferido esta manhã para Cargèse, cidade de 1.300 habitantes, para o funeral.
O velório acontece a partir das 15h (11h de Brasília) na igreja latina, em frente a outro templo do município, neste caso grego. Um clérigo arquimandrita oficiará a cerimônia.
Retratos do separatista emolduravam a porta principal da igreja branca e amarela na quinta-feira, acompanhados por velas. Espera-se a presença em massa de moradores e apoiadores.
“Jogava futebol com meus filhos. Ele treinava meus filhos no estádio. Era como um membro da família”, diz uma idosa, que pediu anonimato, e que relembrou sua surpresa quando foi preso pelo caso Erignac.
“Statu Francese assassinu”. No centro da cidade, entre a tabacaria e o açougue, uma grande faixa denuncia em língua corsa um “Estado francês assassino”. Este lema é visível em vários outros locais.
Além da exigência do retorno dos prisioneiros corsos à ilha, a agressão de Colonna também trouxe à tona a questão da autonomia desta ilha, em plena campanha presidencial.
Após uma série de protestos, às vezes marcados por distúrbios, o governo enviou o ministro do Interior à Córsega, onde prometeu negociar até a “autonomia”, mas sem maiores detalhes.
A situação administrativa na França da quarta maior ilha do Mediterrâneo, onde Napoleão Bonaparte nasceu em 1769, evoluiu ao longo do tempo: de fazer parte de uma região com Marselha para alcançar um status especial.
Desde janeiro de 2018, a Córsega é considerada uma coletividade territorial, combinando funções departamentais e regionais e gerenciando novos poderes como esportes, transporte, cultura e meio ambiente.
Em um país menos descentralizado que seus vizinhos Espanha, ou Alemanha, os nacionalistas corsos gostariam de ter uma maior autonomia em questões fiscais, bem como o reconhecimento do povo corso, ou o status cooficial da língua regional.
pr-mc-est-tjc/mar/mr/tt