22/09/2025 - 12:12
Em meio às notícias de uma capitalização de R$ 10 bilhões junto ao BTG Pactual, Perfin e Aguassanta, a Cosan derrete mais de 20% na bolsa de valores nesta segunda-feira, 22. O acordo deve reforçar a estrutura de capital da companhia, mas ocasionará uma forte diluição dos atuais acionistas da empresa.
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As ações da Cosan recuam 21,47% às 12h negociadas à R$ 5,89. Na mínima os papéis CSAN3 chegaram a ser negociados a R$ 5,63, representando uma retração de cerca de R$ 3,5 bilhões de valor de mercado no intradia.
Os recursos devem ajudar a companhia de Rubens Ometto a equacionar suas dívidas, mas na contramão vai diluir substancialmente que já tem participação na empresa – dos total de acionistas, mais de 60% são free float, ante 36% do capital detido pelo grupo de controle.
Atualmente a empresa possui uma dívida líquida de R$ 17,5 bilhões e uma alavancagem de 3,4 vezes o seu Ebitda. A projeção é de que essa dívida caia para menos da metade com o aporte.
Analistas do Bradesco BBI apontam que a operação deve melhorar a razão de cobertura de juros líquidos, de 1 vez para 2026 para 2,3 vezes – o que deve fazer com que a empresa consiga vender seus ativos em condições melhores e evitar negociações em condições desfavoráveis e com preços baixos.
Além disso, destacam o fato de que parte dos acionistas tem tradição no segmento de infraestrutura e devem colaborar para a deslavancagem da empresa, e que o movimento é um primeiro passo na questão sucessória da empresa, que ainda gera dúvidas no mercado.
Apesar de a companhia já ter declarado que o capital não será utilizado para capitalização da Raízen, as ações da empresa afundam 10% na bolsa de valores, a R$ 1,16 por papel.
Como será a capitalização da Cosan
Os novos sócios, BTG, Perfin e Aguassanta, farão oferta a R$ 5 por ação da empresa, preço consideravelmente abaixo dos R$ 7,50 do fechamento da sexta-feira, 19.
Serão R$ 4,5 bilhões aportados pelo BTG Pactual, enquanto a Perfin entrará com R$ 2 bilhões e a Aguassanta – family office da família de Ometto – entrará com R$ 750 milhões. A capitalização prevê ainda um hot issue de R$ 1,8 bilhão que será integralmente subscrita por todas as partes.
Uma segunda oferta, de R$ 2,75 bilhões, terá preferência de acionistas da empresa – com expectativa de distribuiçãod e até 550 milhões de papéis.
O BTG e a Perfin tem compromisso de integralizar as ações da primeira oferta pública, então garantindo a totalidade da operação.
A injeção de capital será feita por meio de uma nova holding, na qual as Holdings Aguassanta, controladora da Cosan, também participará.
Com exceção dos investidores âncora, metade das ações negociadas na primeira operação não poderão ser negociadas por dois anos, mecanismo chamado no mercado de lock-up.
Aguassanta, veículo de Ometto, continuará como sócio controlador da Cosan, com 50,01% das ações vinculadas ao acordo. Haverá um acordo de acionistas, com prazo de 20 anos.
CEO diz que condições para venda de ativos estavam ruins
Em teleconferência para explicar a transação, o diretor financeiro, Rodrigo Araujo, e o presidente, Marcelo Martins, apontaram que se trata de uma decisão tomada após um ‘longo processo competitivo’, em meio à busca do conglomerado para reduzir seu elevado endividamento.
Mas eles ressaltaram que este não é o ‘único passo’ de desalavancagem, e que a companhia seguirá perseguindo vendas de ativos, mas agora com mais fôlego para aguardar melhores condições de mercado para as alienações.
“As condições de mercado para vendas de ativos têm sido bastante ruins… Nós buscamos alternativas através de investidores privados, que poderiam aportar capital resolvendo imediatamente a nossa questão da alavancagem”, disse o CEO da Cosan.
“Agora nós temos fôlego, temos tempo, tranquilidade, junto com nossos sócios, para definir a estratégia de desinvestimento no tempo que será necessária para chegar no endividamento próximo ou zero, que é nosso objetivo final nos próximos anos”, acrescentou.
Além da questão financeira, os executivos apontaram que há ganhos de governança, ao envolver dois grupos financeiros renomados, com importante ‘expertise’, e alinhados com Ometto.
Ometto, ou outra pessoa apontada por ele, permanecerá como presidente do conselho de administração da Cosan por três mandatos (seis anos). O veículo Aguassanta poderá nomear cinco conselheiros, incluindo um independente, enquanto BTG Pactual e Perfin Infra nomeiam quatro conselheiros, incluindo um independente.
“É importante ter um acordo (de acionistas) longevo, 20 anos. Durante esses seis anos iniciais, não há mudança na estrutura, a partir daí, há possibilidade de se vincular ações… eventualmente mudando o desenho inicial estabelecido. Isso significa basicamente fazer uma transição estruturada na sucessão do acionista controlador, de forma que ele também possa continuar controlador a partir do sexto ano”, disse Martins.
Em relação à Raízen, que não receberá nenhum recurso da capitalização da Cosan, o diretor financeiro destacou que a companhia segue buscando sócios para também reduzir o endividamento da produtora de açúcar e etanol.
A Raízen, joint venture da Cosan com a Shell, fechou o segundo trimestre com dívida líquida de R$49,2 bilhões.