No final da tarde de quinta-feira, 6, uma buzina soou nos escritórios da Cotia Trading, a maior empresa de comércio exterior do País. O som forte e rouco anunciava a chegada de um novo cliente, um fabricante de colchões. A buzina, instalada no meio do escritório, será acionada sempre que a área comercial fechar um novo contrato. ?Quero que haja uma poluição sonora permanente neste escritório?, diz Eduardo Mangabeira Albernaz, o novo presidente da companhia.

O desejo de Albernaz é, na verdade, uma necessidade para a companhia. A Cotia pretende voltar ao azul este ano e enterrar o prejuízo de R$ 42 milhões registrado em 1999. Albernaz já traçou duas grandes linhas de ação. Primeira: abrir mão de todos os negócios alheios à vocação do grupo, ou seja, o comércio exterior. Segunda: voltar às origens e investir em novos tipos de serviços. A Cotia, por exemplo, passou a oferecer aos clientes a importação completa de fábricas ou linhas de montagem. A trading cuida de tudo: da escolha do fornecedor ao financiamento, da documentação à entrega no local de montagem da unidade. Resultado: os novos negócios já representam quase 20% do resultado bruto do grupo, que, este ano, deve chegar a R$ 35 milhões.

Demissões. A Cotia padecia de um mal que atinge boa parte das empresas brasileiras: a diversificação. Ao longo dos últimos anos, foi colecionando negócios que nada tinham a ver com sua principal atividade. Isso absorveu energia e dinheiro do grupo. Por isso, no prazo de alguns meses, a Cotia se desfez de cinco concessionárias de veículos que possuía no Brasil. Uma outra, localizada na Argentina, teve suas portas fechadas. Um galpão em Curitiba teve o mesmo destino. Todos esses negócios foram vendidos com prejuízo. ?Perdemos dinheiro com isso?, diz Albernaz.

Dentro de casa também houve mexidas. O número de funcionários no escritório central caiu de 210 para 180. A redução também atingiu os executivos. A Cotia chegou a ter seis vice-presidentes. Hoje, sobraram apenas dois. Em uma de suas subsidiárias, a Cotia Penske, uma associação com o grupo do americano Roger Penske, o presidente Armando Menge foi substituído por Felipe Figlilioni. ?Queríamos mais agressividade no mercado?, diz Albernaz.

Economista de 42 anos e dono de 3% do capital da Cotia, Albernaz foi chamado em março pelo principal acionista, o ex-banqueiro Pedro Conde, para comandar a virada. Ele substituiu um outro sócio, Jofre Salies, que se recolheu ao conselho de administração depois de um processo de desgaste em função dos resultados negativos. Limpar o balanço do vermelho é a principal missão de Albernaz. A Cotia já chegou a ter um faturamento de R$ 3,5 bilhões. Este ano, não deve superar R$ 1,5 bilhão. A queda é resultado da brusca redução na importação de veículos a partir da desvalorização do real e da instalação de novas fábricas de automóveis no País. O prejuízo veio principalmente dos negócios estranhos à atividade de comércio exterior, como as concessionárias. ?Com a carteira livre desses negócios, vamos crescer de 25% a 30% ao ano?, diz Albernaz. ?Isso será possível porque agora nos dedicaremos apenas ao nosso principal negócio, o comércio exterior.?