Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicado na revista científica The Lancet, apontou que as pessoas que tiveram Covid-19 têm um risco maior de serem diagnosticadas com uma condição neurológica ou psiquiátrica até dois anos depois da infecção, em comparação com aquelas que sofreram outras infecções respiratórias.

Esse foi o primeiro estudo o impacto da infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) em condições cerebrais por um período tão longo. A equipe analisou registros médicos de mais de 1,25 milhão de pessoas de todo o mundo que receberam um diagnóstico positivo para infecção pelo novo coronavírus entre 20 de janeiro de 2020 e 13 de abril de 2022. Essas pessoas foram comparadas com outras que foram diagnosticadas com infecções respiratórias causadas por outros agentes nesse período.

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Para ambos os grupos de participantes, a equipe analisou o risco de desenvolver 14 condições neurológicas e de saúde mental nos dois anos pós-infecção para três faixas etárias: crianças e adolescentes menores de 18 anos, adultos de 18 a 64 anos e idosos com mais de 65 anos.

Os resultados mostraram que, embora o aumento na probabilidade de muitos distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade, tenha voltado ao normal alguns meses após a Covid-19, essas pessoas permaneceram em risco aumentado de condições como demência, epilepsia, psicose e déficit cognitivo (ou névoa cerebral) dois anos após a doença.

Em adultos de 18 a 64 anos, o principal problema a se manter com risco elevado dois anos após a Covid-19 foi a névoa cérebral. Já o risco de demência foi elevado em pessoas com mais de 65 anos. As crianças e adolescentes apresentaram um risco maior de epilepsia ou convulsões, em comparação com aquelas que sofreram outras infecções respiratórias.

No entanto, vale ressaltar que, no caso das crianças, a probabilidade real de desenvolver essas condições permanece pequena, mesmo com o risco aumentado. Essa faixa etária também teve um aumento de três vezes no risco de psicose.

“As descobertas lançam uma nova luz sobre as consequências de longo prazo para a saúde mental e cerebral das pessoas após a infecção por Covid-19”, disse Max Taquet, que liderou a análise, em comunicado.

Os pesquisadores também compararam os riscos para as diferentes variantes de coronavírus. As taxas da maioria dos diagnósticos neurológicos e de saúde mental foram semelhantes após a infecção com as variantes Delta ou Ômicron, apesar de esta última geralmente estar ligada a doenças mais leves.

Ainda não está claro de que forma a Covid-19 aumenta o risco de diferentes condições neurológicas ou psiquiátricas. Mas os especialistas tem algumas hipóteses. A persistência do vírus em certas células do sistema nervoso e os efeitos colaterais dos esforços do sistema imunológico contra o coronavírus são algumas delas.