03/02/2022 - 19:17
Entre os vizinhos, no trabalho, no grupo de pais na escola, todos nós conhecemos alguém que não está confiante com a velocidade com que a ciência avançou com uma vacina para inocular os efeitos da infecção com o SARS-CoV-2.
Para tentar dar uma contribuição para o debate que já se arrasta há muito tempo – sobretudo se pensarmos que estão sendo administradas vacinas há mais de um ano por todo o mundo e a redução dos casos graves nesta última onda é atribuída em grande parte à isso, o jornal catalão La Vanguardia ouviu dois dos maiores especialistas espanhóis para saber o que dizer quando se deparar com alguém que está reticente contra os imunizantes.
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Um dos argumentos muito usados é que as vacinas contêm substâncias perigosas, tais como o alumínio e o mercúrio. Afastado do uso comum há algum tempo, o mercúrio já não está presente em praticamente nenhuma vacina. Quanto ao alumínio, pode estar presente numa pequena quantidade de vacinas – porque é um adjuvante, ou seja uma substancia usada para aumentar o efeito da vacina – mas não está sendo usado nas vacinas contra a Covid-19.
Ainda assim, explicam os especialistas, mesmo onde aquela substância está presente, a dose é tão baixa que não é prejudicial para a saúde. E o mesmo é válido para o mercúrio. “Vacinas mais antigas, ou para outras doenças, poderiam conter este componente, mas numa dose não tóxica e que era eliminada muito rapidamente”.
Outras vezes, os antivacinas também argumentam com os efeitos secundários graves – falam até de autismo. Mas já há algum tempo que a Ciência deu como provado que não há qualquer ligação entre vacinas e este transtorno. Um mentira que se tem aplicado na questão da Covid-19, e também em casos de outras vacinas.
Além disso, já é claro que a maioria dos efeitos adversos são leves, transitórios e locais – contando ainda com o apoio de um sistema de farmacovigilância que monitoriza as novas vacinas aprovadas no mercado. Ou seja, sempre que há algum sinal que permita suspeitar de uma reação ou acontecimento adverso relacionado com uma vacina o fato tem de ser comunicado. De resto, como notam os especialistas, a maioria dos efeitos são leves e passam por si só.
Se, ainda assim, precisar de mais dados para argumentar a favor da vacina contra a Covid-19, pode sempre lembrar que foram já inoculadas mais de 9 bilhões de doses. Ou seja, não há vacina na história da medicina que tenha sido monitorada mais de perto do que esta. O que quer dizer também que se tivessem acontecido reações minimamente graves e que afetassem uma parte significativa da população, teríamos tido conhecimento disso num segundo e isso teria sido tornado público no momento.
Pode ainda acontecer que lhe atirem com o clássico argumento de que não sabemos os efeitos a longo prazo. Mas a grande questão, como contrapõem os especialistas, é que os efeitos secundários das vacinas estão em regra associados ao momento em que são administrados – é quando a resposta imunitária é gerada. Aliás, se atentarmos para o que está a acontecer agora, o que vemos é que as vacinas foram perdendo eficácia com o tempo. Sendo assim, não há muito que se esperar de efeitos a longo prazo.
Outro argumento de que a corrente de antivacinas tem utilizado tem a ver com o fato de a própria Pfizer reconhecer que pode haver casos associados de miocardite, um efeito adverso raro, nos próximos cinco anos. Mas o que a farmacêutica reconheceu não foi isso – foi que só cinco anos depois é que poderá haver sequelas de uma hipotética miocardite.
Além desses, há o argumento usado que se revela uma falácia é o de que as vacinas com tecnologia de ARN mensageiro são incorporadas no nosso DNA. Ora, como explicam os especialistas, o que acontece é que degradam as células invasoras, não entram propriamente no seu núcleo. Esse é um dos fatos que é preciso provar quando se apresenta uma nova vacina aos reguladores: é que não se integra no nosso organismo.
Se surgirem também com a desculpa que qualquer uma das vacinas não previne a infecção, lembre-se que reduz os casos com sintomas graves e de internação hospitalar, que foi o que mais preocupou todos os responsáveis médicos. Além disso, as pessoas vacinadas tendem a eliminar a infecção mais cedo, dado que o tempo de transmissão também é mais curto.
Já quando lhe falarem de cobaias, diga apenas que as únicas pessoas que foram cobaias neste processo todo foram as que participaram nos ensaios clínicos. Mas a essas pessoas foi explicado o procedimento e assinaram um formulário de consentimento informado. Agora, nós, não: não somos cobaias, aliás, fomos uns privilegiados.