Uma fadiga sufocante que atrapalha a vida e torna difícil completar as tarefas diárias mais simples. Esse foi o sintoma descrito por mais de 80% dos pacientes da primeira clínica de reabilitação pós-covid-19 criada pela médica Melissa Heightman, em Londres, no Reino Unido.

Quando criou a clínica, em maio do ano passado, Heightman esperava que a maior parte de seu tempo seria ajudando os pacientes a se recuperarem dos efeitos colaterais de várias semanas em um respirador e que o caminho para a recuperação completa fosse rápido para a maioria dos pacientes.

“Nós pensamos que seria como uma gripe, que tudo iria embora e ficaria bem”, disse a especialista em aparelho respiratório ao portal BBC Future.

Ela não imaginou que, um ano depois, um terço dos pacientes da clínica ainda estaria mal e, em grande parte, incapaz de trabalhar. Todas as histórias seguiam um padrão recorrente, começando com uma infecção aparentemente branda, até que uma estranha constelação de doenças começava a aparecer. Em vez de diminuir, esses sintomas continuavam a persistir por semanas e até meses depois que o vírus, supostamente, havia deixado seus corpos.

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Pesquisas mostraram que a fadiga persistente está presente em pelo menos 62% dos pacientes com a chamada “covid longa”, “covid-19 pós-aguda” ou “síndrome pós-covid”. Uma doença pós-viral que provou ser mais prevalente do que se imaginava inicialmente. O consenso científico é que cerca de um em cada 10 pacientes com covid-19 ainda apresentará sintomas 12 semanas depois da infecção.

É necessário considerar que a covid longa engloba dois grupos de pacientes muito diferentes: aqueles que foram hospitalizados e aqueles que não foram. O primeiro grupo se revelou muito mais simples para os médicos administrarem.

Normalmente, seus pulmões ou coração foram danificados pela infecção viral aguda, ou pela tempestade de citocinas resultante da resposta inflamatória severa, que pode fazer com que o sistema imunológico de um paciente ataque seus próprios tecidos.

A tomografia computadorizada e a ressonância magnética revelam rapidamente a extensão do dano, enquanto medicamentos como a colchicina podem ser usados ​​para atenuar qualquer inflamação persistente nos órgãos internos.

Heightman diz que dois terços dos pacientes da clínica com covid longa que foram hospitalizados estão se recuperando bem, enquanto o terço restante apresentou melhora em seus exames após seis meses. Os pacientes com sintomas de longo prazo que não foram hospitalizados se mostraram muito mais complicados.

De acordo com Heightman, o pico de idade tende a ser entre 35 e 49 anos, e eles relatam uma variedade de sintomas. Algumas pesquisas com pacientes identificaram até 98 sintomas diferentes.

Os mais comuns incluem fadiga, névoa cerebral, dores musculares e nas articulações, distúrbios do sono, enxaquecas, dor no peito, erupções cutâneas, nova sensibilidade a cheiros e sabores e disautonomia, condição normalmente rara que causa um aumento rápido e desconfortável dos batimentos cardíacos quando a pessoa tenta desempenhar qualquer forma de atividade.

Heightman diz que enquanto 50% dos pacientes da clínica com covid longa que não foram hospitalizados melhoraram ao longo de um ano a ponto de serem capazes de gerenciar seus sintomas sozinhos, a metade restante ainda não está bem.

De 3.762 pacientes com covid longa, 77% ainda apresentavam fadiga após seis meses, 72% sentiam mal-estar após esforço, 55% sofriam de disfunção cognitiva, enquanto 36% das pacientes do sexo feminino tinham problemas com o ciclo menstrual. Um dos maiores desafios para os médicos que tentam tratar a covid longa é que provavelmente haja uma variedade de gatilhos ou causas subjacentes, dependendo do paciente.