22/01/2022 - 14:34
A nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde para barrar as diretrizes que contraindicam o uso do chamado “kit covid” classifica a hidroxicloroquina como eficaz para o tratamento contra a covid-19 e afirma que as vacinas não demonstram a mesma efetividade, contrariando uma série de estudos e orientações sanitárias pelo mundo.
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A nota é assinada apenas pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta, Hélio Angotti Neto. O documento barra as diretrizes que contraindicam o “kit covid” no tratamento ambulatorial e hospitalar da doença e outras duas normas, mantendo o País sem uma recomendação oficial de como tratar pacientes de covid com quase dois anos de pandemia.
Na nota, o secretário apresentou uma tabela colocando a hidroxicloroquina, medicamento com ineficácia comprovada contra o novo coronavírus, em oposição às vacinas, que já se demonstraram eficientes para reduzir os casos graves e as mortes pela doença no Brasil e em outros países.
Uma das colunas pergunta se há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados para a covid-19. A resposta é “sim” para a hidroxicloroquina e “não” para as vacinas. A tabela contrapõe os dois métodos ao afirmar que o medicamento tem demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais contra a covid e que a vacina não tem a mesma resposta.
Além disso, a cloroquina teria um custo baixo sem recomendação das sociedades médicas e sem financiamento da indústria, enquanto as vacinas representariam um custo alto com financiamento da indústria e recomendação dos especialistas. O uso da tabela causou críticas nas redes sociais. O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o incentivo ao medicamento em oposição à vacinação.
A nota cita “treze estudos controlados e randomizados com direções de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26% nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos estudos”. Para a falta de efetividade das vacinas, a referência citada são “dezoito ensaios não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança, mas recomendado para ‘combate à pandemia'”.
A hidroxicloroquina e outros medicamentos chegaram a ser testados contra a covid-19, mas a eficácia não foi observada logo após as primeiras fases de estudos. Ainda no primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, um estudo brasileiro coordenador pelos principais hospitais privados do País apontou a ineficácia do medicamento. A mesma conclusão foi observada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Estadão Verifica já mostrou que diversos estudos falharam em comprovar que o medicamento teria algum efeito no tratamento da doença.
Queiroga
O questionamento da eficácia das vacinas contraria políticas do próprio Ministério da Saúde. Neste sábado, 22, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou de uma ação promovida pela pasta para incentivar a vacinação e a testagem da população nos Estados da Região Norte com Angotti Neto, responsável pela nota técnica, e outros secretários do ministério.
Na ação, Queiroga esteve em Manaus e o secretário foi para Porto Velho. O ministro pediu que as pessoas se vacinassem e afirmou que “não há um caminho mais eficiente para nos livrarmos dessa pandemia do que a vacinação da nossa população”. Por outro lado, voltou a criticar o passaporte vacinal e a exigência da imunização.
Ao lado do secretário responsável pela nota técnica, o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), criticou iniciativas contra a vacinação da população no momento em que há um avanço da variante Ômicron. “Movimentos como esse, secretário, representam a vitória da ciência, da racionalidade, sobre o obscurantismo”, discursou Chaves após ter recebido o microfone das mãos de Angotti Neto durante o evento. “Nos ajudem a conscientizar aqueles que negam a validade, a importância da ciência e da vacinação”, afirmou o prefeito, dirigindo-se às pessoas presentes na mobilização.
Durante o evento, Queiroga citou um estudo patrocinado pela secretaria de Angotti Neto e publicado na revista Lancet comprovando a efetividade das vacinas. O levantamento, de acordo com o ministro, mostrou que pessoas vacinadas com a Coronavac apresentaram nível de anticorpos “muito baixo” após seis meses da segunda dose e que a Pfizer registrou índices de anticorpos elevados “em mais de 150 vezes” após o esquema vacinal. “O ministério tem acompanhado não só a eficiência das vacinas, mas também a efetividade”, disse o ministro.