BRASÍLIA (Reuters) – As concessões de empréstimos apresentaram queda significativa em janeiro e levaram a uma baixa no estoque total de crédito no Brasil, informou nesta segunda-feira o Banco Central, que vê o recuo como um movimento sazonal e sem relação com a crise na varejista Americanas.

As concessões totais caíram 15,3% em janeiro ante dezembro, enquanto o estoque de crédito no Brasil reduziu 0,3% no mês, a 5,317 trilhões de reais. Foi o primeiro recuo no saldo total desde janeiro do ano passado.

O dado foi divulgado em meio a dúvidas no mercado e no governo sobre riscos à saúde do sistema de crédito no país, diante do aperto monetário promovido pelo BC e temores desencadeados pela crise na varejista Americanas.

No entanto, o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, afirmou que as principais reduções no saldo de crédito no Brasil no início do ano ocorreram em modalidades que apresentam comportamento sazonal para empresas, embora a queda neste ano tenha sido maior.

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Segundo ele, a antecipação de duplicatas, recebíveis e faturas de cartão tradicionalmente apresentam redução em meses de janeiro após alta em dezembro. Essas modalidades representaram 77% da queda do crédito livre para empresas no mês passado, disse o técnico em entrevista coletiva.

“Essa redução do mês de janeiro aparenta ser causada fundamentalmente por fatores sazonais, o que indica que pode haver uma expansão (do crédito a empresas) nos meses seguintes”, disse, ressaltando que os dados acumulados em 12 meses devem seguir trajetória de desaceleração do crescimento.

De acordo com o técnico do BC, é possível que o caso Americanas tenha efeito sobre o crédito, mas ainda é muito cedo para que um eventual impacto seja sentido, já que as primeiras notícias sobre os problemas financeiros da companhia surgiram em janeiro.

“O primeiro anúncio do caso das Americanas deve ter acontecido por volta de 9 de janeiro, então esse impacto ainda é incipiente, muito inicial. O que a gente viu nos dados de janeiro é que a redução do crédito para pessoas jurídicas tem forte caráter sazonal”, afirmou.

Rocha afirmou que o BC fez um exercício para excluir os fatores sazonais da conta das concessões. Sem esses itens atípicos, segundo ele, foi observado um crescimento de 5,5% nas concessões de crédito no mês.

Na semana passada, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo está focado em evitar uma crise de crédito no país.

DADOS COM EFEITO SAZONAL

No recorte por tipo de crédito, sem retirar o efeito sazonal, as concessões de financiamentos com recursos livres, nos quais as condições dos empréstimos são livremente negociadas entre bancos e tomadores, caíram 13,9% em relação a dezembro. Para as operações com recursos direcionados, que atendem a parâmetros estabelecidos pelo governo, a queda foi de 27,1% no período.

Na separação por tipo de tomador, as concessões totais para empresas caíram 27,1% no mês, enquanto as liberações para pessoas físicas recuaram 4,0%.

As concessões totais ainda avançam 13,9% em 12 meses.

No mês passado, a inadimplência no segmento de recursos livres ficou em 4,5%, contra 4,2% no mês anterior. Em janeiro de 2022, estava em 3,3%.

Em meio ao aperto monetário promovido pelo BC, que também tem observado um aumento nas concessões de crédito em instrumentos de maior risco, as taxas bancárias médias subiram em janeiro.

Em janeiro, os juros cobrados pelas instituições financeiras no crédito livre ficaram em 43,5%, um aumento de 1,8 ponto percentual em relação a dezembro –houve crescimento de 8,2 pontos em 12 meses.

Nos recursos direcionados, houve alta de 0,3 ponto no mês, a 11,9%, com elevação de 2,2 pontos em 12 meses.

O spread bancário, diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente, subiu para 30,6 pontos percentuais nos recursos livres, contra 28,7 pontos em dezembro –estava em 24,6% em janeiro de 2022.

(Por Bernardo Caram)

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