Nos últimos dois meses, o executivo Sammy Roger Ewald acompanhou atentamente a movimentação nos tribunais da cidade americana de Houston, capital do Texas. Aparentemente, era uma preocupação estranha para o presidente de uma das grandes fabricantes de fraldas descartáveis no Brasil, a MPC. Mas era lá que o desenho do mercado brasileiro estava sendo definido. Sob a coordenação dos juízes texanos, a Drypers, uma das concorrentes da MPC, estava sendo negociada aos pedaços como forma de escapar da concordata que a assolava. O desfecho da negociação foi justamente aquele aguardado por Ewald: a MPC arrematou a subsidiária da empresa no Brasil e ficou com uma fábrica em Mogi das Cruzes, além de marcas como Puppet e Baby Pop. O melhor: com a aquisição, a MPC somou mais de oito pontos porcentuais à sua participação de mercado, deixou para trás Kimberly Clark, Procter & Gamble e Johnson & Johnson e assumiu a dianteira, com 22%. Ou seja, de acordo com seus números, a MPC é a líder isolada do setor.

Com a Drypers, a MPC acumula aquele que é o fator decisivo na luta pela sobrevivência nesse mercado: volume de produção. Trata-se da equação clássica. De um lado a necessidade permanente de investimentos em tecnologia ? qualquer evolução no produto requer coisa de US$ 1 milhão, segundo Ewald. De outro lado, as margens reduzidas ? nos últimos 10 anos, o preço da fralda caiu de 50 centavos de dólar para cerca de 15 centavos. Mesmo assim, há muita gente interessada nesse negócio. No Brasil, são 24 fabricantes, que comercializam cerca de 200 diferentes marcas. ?A competição é fortíssima?, diz Ewald. Como acontece em outros setores, a atração pelo mercado brasileiro pode ser explicada mais pela promessa do que pela realidade atual. Por aqui, apenas 28% dos bebês de até 3 anos são vestidos com fraldas descartáveis. No México e na Argentina, essa proporção sobe para 60%. ?Há um enorme espaço a ser conquistado?, afirma Ewald. ?Por isso, é necessário crescer rapidamente para ocupar todos os espaços.? É o que a MPC tem feito. Fruto da associação da mexicana Mabesa e da americana Paragon, a empresa desembarcou no Brasil em 1997.

Desde então, tornou-se uma companhia de faturamento bruto próximo aos R$ 230 milhões. O primeiro passo foi a compra da divisão de higiene infantil da catarinense Cremer. Pagou US$ 23 milhões e levou uma fábrica em Blumenau e a marca, além de uma linha de xampus e cremes para crianças. Dois anos depois, desembolsou US$ 10 milhões para construir nova unidade industrial em Salvador. A meta, nesse caso, era a proximidade do Nordeste. ?Nossa preocupação é a logística?, conta Ewald. ?Como o preço da fralda é muito baixo, o transporte pesa demais no custo. Então, com a fábrica próxima do mercado consumidor, reduzimos muito esse item.? A MPC possui uma fatia de 19% na região, atrás apenas da Procter & Gamble. Das linhas de produção de Salvador, também saem fraldas para o Centro-Oeste e Sudeste do País.

Outra característica da MPC pode ser observada na decisão de construir a fábrica baiana. ?Somos uma empresa que trabalha junto ao consumidor?, diz ele. ?Nosso marketing é concentrado no ponto de venda.? Raramente canais de comunicação de massa são utilizados. Todas as promoções são feitas junto às gôndolas de supermercados e lojas. ?Privilegiamos as parcerias com nossos clientes.? A empresa mantém marcas específicas para alguns desses parceiros. Nas gôndolas do Makro Atacadista, por exemplo, podem ser encontradas as fraldas descartáveis Gift, marca exclusiva para o atacadista.

Outra importante fonte de receita da MPC é a fabricação para outras empresas, que imprimem suas marcas no produto. Cerca de 60% de sua produção destina-se a esse mercado no Brasil. Nos EUA, 90% da produção é comprada por terceiros. No México, 60%. É uma forma de enfrentar uma briga marcada por concorrentes cujo principal fator de competitividade é a informalidade, um eufemismo para a sonegação fiscal. De acordo com Ewald, cerca de 35% do volume comercializado de fraldas descartáveis está nesse caso. É uma diferença significativa. Os impostos representam 42% do preço para o consumidor. ?Isso tem depauperado a indústria que atua dentro da legalidade?, diz Ewald. ?Este ano e 2002 serão muito difíceis para nós devido a essa situação?. A compra da Drypers foi importante também para dar um sinal ao mercado sobre as pretensões da MPC. Segundo Ewald, sobrarão apenas sete a oito participantes no mercado de fraldas descartáveis. ?É provável que uns comprem os outros?, diz ele. A MPC, garante, estará no grupo dos compradores.