Segundo dados da Associação Brasileiras das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o volume investido em ativos isentos de Imposto de Renda cresceu 37,1%, atingindo um montante total aplicado de R$ 1,1 trilhão no ano.

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No entanto, após o governo federal demonstrar preocupação, uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) restringiu as emissões de ativos como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), isentos do IR para o investidor final.

Ainda de acordo com a Anbima, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) avançaram 55,8% em 2023, somando R$ 63,7 bilhões no ano. Já as LCIs tiveram alta de 50%, alcançando um total de R$ 324,4 bilhões aplicados. As LCAs tiveram alta de 36,6%, alcançando um total investido de R$ 420,8 bilhões. Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) outro ativo isento de IR, subiu 31,4%, ampliando o volume para R$ 94,9 bilhões aportados.

Considerando o total investido por brasileiros no ano em todas as classes de ativos, o varejo foi responsável por R$ 3,6 trilhões, enquanto o segmento private, que inclui clientes com pelo menos R$ 5 milhões aplicados, avançou 13,8%, somando R$ 2,1 trilhões.

A Renda fixa foi o investimento preferido, com a participação nas carteiras aumentando de 81,1% para 82% entre investidores de varejo e de 32,5% para 35,4% no private. Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) responderam pelo maior volume, totalizando R$ 874,1 bilhões, avanço de 22,7% ante 2022.

“Produtos de renda fixa mais conservadores, sejam estes isentos ou convencionais, a exemplo dos CDBs, passaram a ser a maioria nas carteiras dos clientes. Justamente por se beneficiar da taxa de juros, que, apesar de ter entrado em um ciclo de redução, ainda permanece em dois dígitos”, afirmou o presidente do Fórum de Distribuição da Anbima, Ademir Correa Júnior.

Renda variável e investimentos híbridos

Ainda segundo dados divulgados pela Anbima, houve aumento de 0,5 ponto percentual de participação da renda variável na carteira do público private, enquanto o crescimento no varejo foi de apenas 0,1 p.p. O volume aplicado em ações chegou a R$ 716,1 bilhões, alta de 16,5% na comparação com o fechamento de 2022.

Já os híbridos (fundos multimercados, imobiliários e cambiais, ETFs e COEs) perderam espaço nas carteiras, sobretudo no grupo private, onde saíram de 26,3% em 2022 para 22,7% no fechamento do último ano. No varejo, o recuo da classe foi de 1 ponto percentual, para 8,9%.

Correa Júnior explica que as incertezas em relação aos juros, piora da perspectiva econômica nos Estados Unidos e fatores internos prejudicaram a performance de multimercados em 2023.

“Neste cenário, até os investidores do private, normalmente mais resilientes às intempéries do mercado, buscaram um porto seguro em investimentos no mundo da renda fixa, como em CDBs e, especialmente, em títulos isentos”, complementa.

Fatores para o aumento nos investimentos isentos de IR

Para o CEO da Bankerize, Thiago Rodolfo, quatro fatores explicam a maior procura por produtos de investimentos isentos do Imposto de Renda. São eles: atratividade fiscal, busca por diversificação, políticas de incentivo e desempenho do setor.

“A isenção de IR torna esses ativos particularmente atraentes para os investidores, especialmente em um contexto de busca por eficiência fiscal. A isenção pode resultar em retornos líquidos superiores em comparação com investimentos tributáveis, aumentando o interesse dos investidores”, explica Rodolfo.

Quando à diversificação, Rodolfo argumenta que em um cenário de incertezas econômicas, os investidores tendem a buscar diversificação em suas carteiras. Ativos isentos de IR como LCI, LCA, CRI e CRA oferecem essa diversificação, além de estarem associados a setores fundamentais da economia, como imobiliário e agronegócio.

Além disso, o governo e órgãos reguladores podem ter implementado políticas que incentivam investimentos em certos setores da economia, como o imobiliário e o agronegócio, por meio desses ativos isentos de IR. Esses incentivos podem incluir, além da isenção fiscal, condições favoráveis de emissão e negociação desses títulos no mercado.

“O crescimento específico de setores como o imobiliário e o agronegócio pode ter contribuído para o aumento do interesse nos respectivos ativos financeiros. Por exemplo, um mercado imobiliário aquecido pode tornar os CRIs mais atraentes, enquanto um bom desempenho do setor agrícola pode fazer o mesmo pelos LCAs e CRAs”, relata.

Especialistas apontam melhores opções de investimentos isentos de IR

Especialistas apontam que o L6, LCAs, LCIs e CDBs seguem com rendimentos interessantes, além de facilitar a avaliação do investidor por se tratarem de produtos financeiros mais conhecidos do público.

“Para investidores iniciantes, o mais é interessante acaba sendo o L6 e as LCAs. Esses produtos têm um bom rendimento, apesar de efetivamente poderem render um pouco menos por conta de possíveis crises. Além disso, eles têm garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), assim como é feito com o CDB”, orienta o diretor de negócios da Comdinheiro/Neologica, Filipe Ferreira.

Ferreira lembra, ainda, que a LCI é isenta especialmente nesses prazos um pouco mais curtos, o que acaba tornando-a mais vantajosa. Ele ressalta, no entanto, que há pontos de atenção a serem levados em consideração pelos investidores.

“Dificilmente você vai achar uma LCI com liquidez diária, desde a data de aporte. As LCIs e LCAs costumam ter pelo menos 90 dias de carência. Entretanto, se você consegue esperar esses 90 dias é uma boa alternativa. O CDB também tem certa flexibilidade, além de não ser taxado pelo IR, mas cabe lembrar que ele está sempre sujeito à tabela regressiva”, diz.

Já o investidor profissional e especialista em investimentos Tato Barros, acrescenta que também existem ótimos ativos como o CRAs, que rende o equivalente ao IPCA + 6%, além do TCA, que rende o IPCA + 5,5%.

“São ativos de boa qualidade, mas nesse caso não existe a garantia de um fundo garantidor. Então é muito importante o investidor calcule o risco. O lastro esse ativo que ele tá comprando é considerável, mas existem ótimas opções vindo ao mercado pagando até 11% de rendimento”, comenta Barros.

Para os investidores menos conservadores e mais adeptos a riscos, as debêntures em infraestrutura podem garantir boa remuneração, segundo Barros.

“Nesse caso, elas rendem mais que os produtos acima mencionados, com taxas superiores ao IPCA. Porém, é importante avaliar o risco de cada ativo”, complementa.