DINHEIRO ? O que explica o crescimento tão acelerado do setor de telefonia celular?
FRANCISCO PADINHA ? Esse fenômeno já ocorreu em outros países. Em Portugal, por exemplo, a taxa de penetração dos celulares é de 102%. Ou seja: há mais aparelhos em funcionamento do que pessoas. O que explica isso? O ambiente competitivo e a agressividade de marketing, que geram fortes subsídios para os clientes. Ora, no Brasil, temos áreas com quatro operadores, e a venda é facilitada pelas estratégias de parcelamento. Além disso, as pessoas dão grande valor à mobilidade, o que oferece uma grande vantagem do setor de telefonia celular em relação às empresas fixas. Finalmente, o pré-pago dá ao cliente uma sensação de controle em relação aos gastos.

DINHEIRO ? O celular vai tomar o lugar do telefone fixo?
PADINHA ? Não é de admirar que a penetração da telefonia fixa esteja saturada no Brasil, porque ela está em linha com o número de domicílios do País. Já existem aparelhos fixos em 85% das residências. Os celulares, porém, apesar de todo o crescimento recente, ainda atingem 30% da população. Há 56 milhões de aparelhos. É por isso que ainda existe grande potencial de crescimento.

DINHEIRO ? Mas até que ponto?
PADINHA ? Essa é a pergunta de um bilhão de dólares. Mas não só até que ponto. A questão é: até que ponto e com que rentabilidade? Nós temos quase 180 milhões de habitantes. Quantos podem pagar por um celular? Quantos nunca poderão pagar? O que acontece é que o pré-pago consegue ser viável com baixos índices de consumo e os celulares têm desempenhado um papel de universalização dos serviços que era esperado ser das fixas. É muito difícil dizer se o mercado brasileiro vai saturar com 100 milhões ou 120 milhões.

DINHEIRO ? Mas as empresas não têm conseguido bons lucros. A Telesp Celular, por exemplo, anunciou um prejuízo de R$ 36 milhões.
PADINHA ? Num mercado em crescimento, como o brasileiro, você não deve avaliar a empresa só pelo resultado líquido. No caso da Telesp Celular Participações, por exemplo, a empresa está digerindo duas aquisições fortíssimas: a da TCO, do Centro-Oeste, e a da Global Telecom, do Paraná e de Santa Catarina. O que se deve olhar é a geração de caixa. No nosso caso, com uma margem entre 35% e 40% nesse quesito, estamos relativamente bem.

DINHEIRO ? Mas seus concorrentes vêm avançando.
PADINHA ? O Brasil é hoje um dos mercados com a maior taxa de crescimento do mundo, algo em torno de 42% ao ano. É natural que aqueles que chegaram depois cresçam mais rápido. Mas o mais difícil é gerar uma boa margem de retorno do investimento. No caso da Claro, tenho notado que o Carlos Slim quer crescer, mas de forma mais cautelosa, ou seja, com foco na rentabilidade também.

DINHEIRO ? As promoções agressivas serão mantidas?
PADINHA ? Quando os mercados passam a funcionar com taxas menores de crescimento, os operadores começam a baixar as ofertas. Os subsídios de aquisição são substituídos por programas de fidelização. É um jogo muito tático. Em seguida, as empresas buscam novas fontes de receita. No caso da Vivo, 5% do faturamento líquido de serviços já vem da transmissão de dados. É uma grande avenida de crescimento na qual apostamos.

DINHEIRO ? Há excesso de concorrentes?
PADINHA ? Eu sou uma das pessoas que não acredita na viabilidade de quatro concorrentes. A experiência de outros países mostra que esse negócio talvez se equilibre com três operadores. O que se diz é que o monopólio é muito ruim. Com dois, é melhor, mas não o suficiente. Três talvez seja o ideal. Até porque, com quatro operadores, as margens de todos baixam e o consumidor não ganha com isso. As empresa lutam até que o quarto morra. E depois os preços voltam ao normal.

DINHEIRO ? Quem morreria no Brasil?
PADINHA ? Não saberia dizer.

DINHEIRO ? A Vivo, sendo líder, está numa posição confortável?
PADINHA ? No setor de celulares, não existe nada confortável. E as grandes empresas são as que devem estar sempre mais atentas. Não é muito difícil que elas possam entrar em caminhos de deslizamento. Nosso foco é manter a liderança de mercado, mas também uma liderança de margem e de oferta de serviços.

DINHEIRO ? A TIM lançou um serviço nacional de celulares e a Brasil Telecom, empresa da qual a TIM é sócia, também planeja iniciar suas operações. Muitos concorrentes, incluindo a Vivo, questionaram a postura da Anatel. Como o sr. vê a questão?
PADINHA ? A legislação brasileira é muito complexa. O que não é aceitável, a nosso ver, é que as condições às quais a Vivo está sujeita não valham para outras empresas. Nós, por exemplo, não temos um número de longa distância porque a Telefônica, nossa acionista, já tem. Caberá ao Pedro Jaime Ziller, da Anatel, zelar pela igualdade das regras de competição. E nós temos plena confiança na agência, que até agora vem agindo de forma justa.

DINHEIRO ? Muitos comentam que a Vivo teria interesse em comprar a Telemig, hoje com o Opportunity, para fechar a área de cobertura da empresa, que está fora de Minas Gerais. Isso procede?
PADINHA ? Temos várias maneiras de fechar a nossa cobertura, desde logo através de roaming. Por enquanto, estamos fora de Minas e do Nordeste. Mas há outra possibilidade plausível. Os operadores dessas regiões hoje utilizam uma freqüência com tecnologia TDMA. Todos anunciaram que irão migrar para a tecnologia GSM, que usa outra freqüência. Ou seja: algumas faixas de espectro, que são um bem escasso, ficarão vazias. O ideal seria que a Anatel relicitasse essas áreas. Nós estamos interessados em criar postos de trabalho e em incrementar a competição em Minas e no Nordeste. Por que não permitir isso?

DINHEIRO ? Isso é mais viável do que uma aquisição?
PADINHA ? Se houver uma oportunidade equilibrada de compra, nossos acionistas já deixaram claro mais de uma vez que têm cacife e que estão fazendo uma aposta de longo prazo no Brasil. Mas um negócio desse tipo não depende só do comprador.

DINHEIRO ? A saturação do mercado de telefonia fixa não se deve à ausência de competição no setor?
PADINHA ? A questão é estrutural. Em nível mundial, é muito difícil que exista competição entre operadoras fixas, em razão da dificuldade de duplicar os acessos à residência de um cliente. O que ocorre no mundo todo é que o grande competidor das teles tradicionais é hoje o celular, um serviço muito mais conveniente para as pessoas. O que eu diria é que as fixas têm muito a aprender com as empresas de celular no que diz respeito à aproximação com o consumidor. Perder um cliente numa operadora de celular é um drama. Não sei se acontece o mesmo nas fixas.

DINHEIRO ? Como o sr. vê o futuro da telefonia fixa?
PADINHA ? Creio que passará pela banda larga. Como a cada dia a fibra ótica é mais barata, as fixas tenderão a oferecer infra-estrutura nas residências para transmissão de dados, de televisão por assinatura e de voz também. Em vez do modelo atual, em que se cobram pulsos por minuto, creio que haverá algo muito próximo daquilo que acontece na energia elétrica. O cliente pagará por uma banda, que estará à sua disposição, mais o consumo. Encontrar o novo modelo é o maior desafio que o setor de telecomunicações tem enfrentado em todo o mundo.

DINHEIRO ? E o futuro dos celulares?
PADINHA ? Nós já temos tirado partido dos novos serviços digitais. Já temos mais de 180 aplicações. É possível ver filmes, vídeos e consultar informações de trânsito, entre muitas outras coisas. Você paga uma taxa básica pelo serviço e algo a mais pela quantidade de informações utilizadas, bem como pela sua natureza. Se você quer saber sobre o trânsito, o preço é um. Se você quer consultar a cotação das suas ações na bolsa, o preço é outro.

DINHEIRO ? Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários barrou a operação de incorporação da TCO pela Vivo. Foi um procedimento correto?
PADINHA ? O resultado foi lamentável. Nós estávamos fazendo uma oferta justa aos acionistas. O resultado da postura da CVM é que a incorporação não será mais feita e os minoritários perderam parte do ganho que teriam.

DINHEIRO ? Por que a Vivo adotou a tecnologia CDMA, enquanto todos os outros migraram para o GSM?
PADINHA ? Por uma razão simples. Está provado que o CDMA é a tecnologia adequada para a terceira geração dos celulares. Foi escolhida na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Isso é dito por todas as pessoas idôneas, que estão nas universidades e, portanto, fora do calor da competição.

DINHEIRO ? O que significa a terceira geração do celular?
PADINHA ? Significa evoluir dos serviços de voz para os serviços multimídia. E
então você necessita de banda mais larga. O cliente quer um vídeo transmitido
em tempo real. Hoje, o CDMA da Vivo é três ou quatro vezes mais rápido do que
o GSM dos concorrentes.

DINHEIRO ? Muitos dizem que o celular será sempre usado apenas para falar. Há mesmo mercado para serviços de dados tão sofisticados?
PADINHA ? Claro que um conjunto de pessoas irá sempre centrar seu interesse na comunicação de voz. Mas a barreira cultural diante da tecnologia não é tão grande para as novas gerações. Os exemplos mais flagrantes são os da Coréia do Sul e do Japão. As operadoras coreanas já recolhem mais de 40% das receitas dos serviços de transmissão de dados, como o envio de e-mails, fotos, jogos e vídeos. E isso tem acontecido porque os aparelhos são cada vez melhores e user-friendly, ou seja, fáceis de manejar. O celular virou um computador.

DINHEIRO ? A Vivo também atua no mercado corporativo. Os custos são competitivos?
PADINHA ? É preciso medir o custo e a qualidade do serviço. Nós conectamos os laptops dos clientes a 144 kilobytes por segundo e garantimos a mobilidade. Hoje, a Vivo Empresas já responde por uns 25% da receita de voz que nós temos. É uma unidade que se foca no mercado corporativo, mas também atende as pequenas e médias empresas. É a que mais tira proveito das novas tecnologias.