Há algo de novo (e bom) na relação entre crescimento e geração de emprego no Brasil. Com as mesmas taxas de expansão, a economia parece estar sendo capaz de oferecer um número maior de vagas. Nos 12 meses de 2004, por exemplo, criaram-se 1,8 milhão de postos de trabalho no País, com aumento de 6,5% das contratações. Enquanto isso, o PIB, de acordo com as últimas estimativas, terá crescido bem abaixo: 5,3%. É a primeira vez que a criação de empregos bate a expansão do produto em contexto de forte aceleração do PIB. As empresas parecem ter chegado ao limite da ampliação da produção sem novas vagas, aproveitando-se da profunda reengenharia dos anos 90 e de seus ganhos de produtividade. Agora, com a demanda batendo na porta e as fábricas com ocupação média acima de 86%, segundo a CNI, é hora de recolocar na porta a placa de PROCURA-SE. ?Todos os indicadores apontam para um ano melhor?, analisa Alencar Ferreira, secretário-executivo do Ministério do Trabalho, referindo-se a 2005. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro constatou que 13% dos empresários da indústria pretendem contratar no primeiro trimestre de 2005. ?É a melhor previsão desde 1997, pois o setor tende a demitir nos primeiros três meses do ano?, diz Aloisio Campelo, coordenador do núcleo de análises econômicas da FGV.

Embaladas pelos números do ano passado, montadoras e indústrias de autopeças iniciaram este ano com o maior nível de ocupação em oito anos. São 118 mil trabalhadores nas linhas do setor. As autopeças, sozinhas, devem gerar mais 11 mil empregos. Estima-se ainda a criação de mais 32 mil vagas em shopping centers, parte das 500 mil do setor de serviços. Aliás, na região metropolitana de São Paulo, esse segmento foi responsável por 243 mil das 289 mil vagas geradas até novembro, de acordo com o Dieese. ?Com a melhora da renda, a tendência é que tenhamos outro ano muito bom?, afirma Patrícia Costa, técnica do departamento de trabalho do Dieese. Mais do que as exportações, é a melhoria da renda e o aquecimento do mercado interno que devem puxar a expansão da economia este ano. De acordo com o Ministério do Trabalho, só o aumento de 9,3% do salário mínimo, que passa a R$ 300 a partir de maio, deve injetar R$ 20 bilhões na economia. ?Entre 1998 e 2003, a renda do trabalhador acumulou queda de 30% e em 2004 ela voltou para o melhor patamar desde 2000?, afirma Patrícia, do Dieese. Surfando nessa expectativa, o grupo Pão de Açúcar pretende empregar 5,5 mil pessoas nas 21 lojas que serão inauguradas em 2005. Além disso, serão criados outros 16 mil postos indiretos na construção e reformas de unidades antigas. Mesmo a Perdigão, que tem como foco o mercado externo, já está se preparando para atender um aumento da demanda dentro do País. ?Contratamos 3,4 mil pessoas em 2004 e vamos contratar pelo menos 2 mil este ano?, afirma o gerente de Recursos Humanos, Dorival Carlos Torga.

Será assim tão fácil? ?As contratações de 2004 foram feitas para reabastecer a capacidade ociosa?, duvida o economista Márcio Pochmann, ex-secretário do Trabalho de São Paulo. ?Sem investimentos não haverá empregos este ano.? A boa notícia é que no último trimestre do ano passado o Brasil investiu 21% do PIB, o melhor percentual desde 1991. Companhias como Embraer e Volks caminhões, que fizeram grandes contratações no ano passado, acreditam que têm folga para crescer um tanto este ano sem voltar a acionar o RH. ?O efetivo de 14,6 mil funcionários será suficiente para a construção das 145 aeronaves previstas para 2005?, afirma Júlio Franco, diretor de Recursos Humanos da Embraer. Pessimista, Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, garante que nesses três primeiros meses de 2005 ?haverá mais desemprego?. Ele diz que parte do aumento do consumo no ano passado foi registrado pelo empréstimo descontado em folha, e sustenta que este ano será de pagamento das dívidas. O economista Rogério Costanzi, do Ipea, não vê motivos para tanto pessimismo. Ele acaba de concluir um estudo relacionando os dois indicadores e nele fica claro que desde o final dos anos 90 a geração de vagas vem descolando lentamente da evolução do PIB. ?O emprego formal depende, sim, do crescimento?, afirma Costanzi. ?Mas depende ainda mais da percepção dos empresários sobre a sustentabilidade desse crescimento.?