Ocupando a segunda colocação entre os sites mais acessados do mundo (atrás somente do Google), o YouTube contribuiu com a injeção de mais de R$ 4,55 bilhões no PIB brasileiro e com a geração de mais de 140 mil empregos equivalentes a tempo integral em 2022. Os dados são de um relatório da Oxford Economics, que revelou ainda o fato de 105 mil criadores brasileiros empregarem outras pessoas para trabalharem em seus canais. Em meio ao avanço de concorrentes como TikTok, a plataforma de vídeos controlada pela big tech Alphabet (também dona do Google) tem buscado se adaptar por meio de suas possibilidades multiconteúdo, multiformato e multidispositivo. Uma das grandes novidades, fomentada por uma mudança considerada disruptiva por Patrícia Muratori, é a transmissão de jogos esportivos através de canais dos criadores de conteúdo, como é o caso do CazéTV. “Eu costumo dizer que o Brasil é um grande laboratório massivo”, afirmou. “Tudo o que acontece aqui é muito grande e tem um efeito muito importante para entendermos como pode ser o comportamento do criador e do usuário em uma perspectiva de escala” .

O YouTube injetou R$ 4,55 bilhões no PIB brasileiro. Qual sua avaliação sobre esse impacto na economia criativa?
Nós temos um coletivo de milhares de criadores que quebram a barreira da mentalidade comum sobre a forma que a economia gira. O criador brasileiro, inclusive, tem um papel muito importante nisso. Atualmente, os criadores não têm mais canais no YouTube e sim negócios. Eles não têm inscritos, mas sim fãs, alunos e clientes. Isso acaba transformando muitos desses criadores, permitindo que eles possam empregar outras pessoas.

Há muitos casos de criadores que, a partir de seus canais na plataforma, tenham aberto outros negócios?
Sim, inclusive fisicamente. Eles abrem, por exemplo, salões de beleza, academias, padarias. Isso tem acontecido em inúmeros grupos de afinidade, de diversos temas. E essa é a grande magia. Entendemos que esse pode ser um mundo do entretenimento que se desdobra em várias frentes. Os resultados apresentados no nosso relatório servem para cristalizar as histórias por trás dessa economia criativa para que o mercado consiga perceber a importância do criador de conteúdo que, na verdade, é um criador de negócios.

Como o Brasil se destaca na economia criativa e no mercado de influência?
Existe uma explosão criativa muito forte no Brasil. Temos a criatividade, a paixão atrelada e a linguagem. A forma de se comunicar é única. Mas também há um engajamento muito grande. Acredito que a diversidade seja um ponto interessante nisso tudo, porque a gente vê pessoas de diversos tipos utilizando a plataforma como meio de carreira e retorno financeiro. Mas, para além disso, também existe o outro lado da tela. A importância para quem assiste e acessa essa diversidade.

O Brasil é o terceiro país que mais consome vídeos do YouTube. Qual a importância estratégica do País para a plataforma?
A gente sabe que o brasileiro é uma das nacionalidades que mais consome o digital como um todo. Quando você está em uma empresa global e você tem um país que desponta pela criatividade, consumo e quantidade de usuários, os produtos acabam sendo testados nesse lugar antes, por exemplo. Existe também um espaço maior para feedbacks. Eu costumo dizer que o Brasil é um grande laboratório massivo. Tudo o que acontece aqui é muito grande e tem um efeito muito importante para entendermos como pode ser o comportamento do criador e do usuário em uma perspectiva de escala.

Recentemente, o PL das Fake News voltou a ser discutido na Câmara. Qual sua opinião sobre o projeto?
Nós temos uma forte estratégia de combate à desinformação. A remoção dos conteúdos que ferem nossas políticas de comunidade é uma delas. Mas para além disso, nós buscamos recompensar conteúdos que atingem um nível de qualidade e destacar as fontes de confiança. Isso é dia-a-dia. Fora isso, nós também fazemos muitas parcerias. No ano passado, por exemplo, nós fizemos parceria com o Centro Internacional para Jornalistas, o ICFJ, para combater desinformações associadas ao período eleitoral no Brasil. Durante a pandemia, a parceria foi com a OMS. É claro que em um ambiente onde a gente recebe mais de 500 horas de vídeo por minuto, nós estamos sempre intensificando o nosso sistema para poder aprender, inclusive, com os maus atores que surgem na plataforma. Sobre as questões regulatórias, nós somos sim a favor do combate à desinformação. Agora, nós precisamos fazer parte deste debate, mostrando como a plataforma funciona, como é que a nova economia criativa funciona e quais são nossos esforços de responsabilidade.

Na era do TikTok e dos vídeos curtos, como o YouTube vem buscando se adaptar?
Os vídeos curtos foram uma evolução orgânica de uma plataforma de vídeos, mas ele é mais que um formato, é um recurso para quem cria e para quem consome. Faz parte do contexto. Eu quero um vídeo curto para ser fácil no meu dia. Eu tenho essa opção. Porém, o YouTube tem o diferencial de poder oferecer um formato curto de 15 segundos ou uma live de 15 horas. Partimos do princípio de que a nossa plataforma funciona através do que é bom para o usuário e para o criador de conteúdo.

De que forma isso é feito?
Nosso funcionamento acontece através do comportamento de quem consome, mas vem também do propósito, da paixão, habilidade, do negócio e do criador. Por isso que hoje somos multiconteúdo, multiformato e multidispositivo. Hoje, uma das grandes formas de você assistir o YouTube é na televisão. Temos mais de 76 milhões de dispositivos ligados ao YouTube na TV. Assim como sabemos a força do celular. Mas não é sobre uma coisa ou outra, é sobre essa evolução constante a partir do que é importante para quem consome e para quem cria.

Quais mudanças de hábitos digitais vêm sendo percebidas pelo YouTube?
O Brasil é um país que sempre teve um consumo muito forte de futebol pela mídia tradicional. Porém, dados revelados no nosso último Relatório de Impacto mostram que 72% dos entrevistados brasileiros preferem assistir transmissões ao vivo do seu esporte favorito no YouTube em vez do rádio ou da televisão. Então a gente entende que essa combinação da linguagem, da autenticidade, da criatividade e da interatividade é crucial. Nesse sentido, temos visto fenômenos importantes acontecendo, como é o caso do canal CazéTV, que faz transmissão e comenta jogos esportivos através de uma linguagem muito específica. Essa percepção fez com que a gente apostasse em combinações. Anunciamos o Paulistão, que foi também uma grande novidade da plataforma e que vai para dentro do CazéTV em 2024. Então a gente acredita nessa explosão de impacto entre o conteúdo, que é o maior ativo, versus a audiência dos canais.

Quais tecnologias têm sido aliadas das transformações no YouTube?
A Inteligência Artificial tem colaborado muito para que nossas transformações e evoluções aconteçam de forma orgânica. Ela está muito por trás do play. Tem a ver com recomendação, personalização, recomendação, com a experiência do usuário. Ou seja, para você poder assistir um conteúdo no celular, no transporte público, ou para você assistir na sua casa, tem toda uma tecnologia por trás. Assim como o investimento em produto. No momento, por exemplo, estamos em um formato beta com os criadores, para que eles possam, por exemplo, dublar seus vídeos em diversos idiomas. Algo que seria impossível de se fazer de forma manual. Afinal, nós estamos falando de mais de 500 horas de vídeo por minuto que sobem na plataforma. A IA também é aliada da garantia da segurança, para privar os usuários de conteúdo perigoso. A gente faz isso usando uma combinação de sistemas de inteligência artificial e revisores humanos, para garantirmos que a plataforma seja segura e para protegermos a experiência do usuário de forma eficiente em escala.

Que novidades podemos esperar do YouTube para os próximos anos?
Com certeza novidades relacionadas com a Inteligência Artificial. É uma estratégia importante para trabalhar com o usuário, os criadores, as marcas e a inovação de conteúdo. Acho que ainda vêm grandes lançamentos e anúncios pela frente, mas essa é uma das novidades que já consigo antecipar.