O caso das “Búfalas de Brotas”, um dos maiores episódios de maus-tratos a animais já ocorridos no Brasil, começou a ter um desfecho mais positivo na última quinta-feira (20). A organização não governamental (ONG) Amor e Respeito Animal (ARA) ganhou na justiça a guarda definitiva do rebanho com mais de mil cabeças. Desde o início dessa história, membros da instituição e profissionais voluntários se revezam em uma árdua jornada para tratar e recuperar esses animais. E para garantir que haja condições, inclusive de infraestrutura e financeiras, de manter esse trabalho.

O caso veio à tona no dia 6 de novembro do ano passado, quando a Polícia Ambiental do Estado de São Paulo, após uma denúncia anônima, vistoriou a Fazenda São Luiz da Água Sumida, localizada no município de Brotas (SP), e encontrou 335 búfalas e 332 bezerros em condições precárias de criação, com fome e sede. Também foi descoberta uma vala com 22 animais mortos.

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No dia 24 daquele mês, identificarem mais 385 búfalas e 72 equinos em situação de abandono, além de 14 carcaças que, para o tenente do 5º Batalhão da Polícia Ambiental, José Augusto Bravo, eram de animais que não morreram por causas naturais. “É uma situação de negligência por parte do proprietário. E dolosa, pois ele tem consciência disso”, afirmou. “Até para nós, que trabalhamos com isso, é comovente.” As infrações até ali resultaram em multas de mais de R$ 3,5 milhões para o dono da fazenda, Luiz Augusto Pinheiro de Souza, que teve prisão decretada e está foragido.

Segundo a advogada que representa a ARA, Antília Reis, houve uma sucessão de atos de crueldade. “Havia cerca de 700 animais presos em uma área da fazenda onde se alimentavam de casca de árvore. Pior, estavam a cerca de 300 metros de uma fonte de água sem poder acessá-la, alguns morreram de sede ouvindo o barulho da água”, disse. Para a advogada, essas búfalas terão sequelas irreversíveis, e até mesmo os bezerros que começaram a nascer agora em janeiro – muitas fêmeas estavam prenhes – podem crescer com problemas. Como disse o tenente da Polícia Ambiental José Augusto Bravo, “essa ocorrência serve como um alerta”.

É por esse e muitos outros motivos que a equipe responsável pelas “Búfalas de Brotas” celebrou tanto a conquista da guarda definitiva do rebanho. Parte dessa comemoração está no perfil do grupo no Instagram (@búfalas_de_brotas), assim como o dia a dia na fazenda e os dados para quem quiser e puder contribuir.

Representantes do agronegócio apoiam a causa. Pecuaristas e empresas agrícolas da região doaram insumos para o cuidado dos animais; a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo tem prestado assistência técnica para o cuidado com o rebanho e pode ajudar a ARA na reconstituição das pastagens da fazenda; a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) soltou um comunicado condenando o crime de maus-tratos e destacando que isso nada tem a ver com a produção agropecuária. Está aí um bom caminho para o agro intensificar sua comunicação com a sociedade de maneira geral: mais do que mostrar o quanto cumpre as regras, é importante cravar de que lado está quando algo de errado acontece no seu terreno.