16/03/2015 - 10:49
Desfile de carros pelas ruas de Sebastopol, concertos e fogos de artifício: a Crimea começa nesta segunda-feira a celebrar o primeiro aniversário de seu “retorno” à Rússia, um ano após o controverso referendo que aprovou a sua anexação pela Rússia.
Em 16 de março de 2014, sob o olhar das forças especiais do exército sem insígnias que duas semanas antes havia ocupado o parlamento da Crimeia e vários locais estratégicos na península ucraniana, os habitantes desta região, em sua maioria de língua russa, foram às urnas para aprovar sua anexação à Federação da Rússia.
As autoridades da Crimeia afirmam que 97% dos votantes responderam afirmativamente, mas a votação, que teve lugar na ausência de observadores independentes, foi considerada “ilegal” por Kiev e os ocidentais.
A UE reiterou nesta segunda-feira a sua condenação a “anexação ilegal” da península e manifestou preocupação com a sua “crescente militarização”.
“Um ano após a realização de um ‘referendo’ ilegal e ilegítima, e após a anexação ilegal da Crimeia e de Sevastopol pela Rússia, a União Europeia continua claramente comprometida com a soberania e integridade territorial da Ucrânia”, escreveu a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em um comunicado.
Desafiando as sanções econômicas introduzidas pelo Ocidente, Putin assinou dois dias depois o decreto sobre a integração da Crimeia à Rússia, para a ira das autoridades ucranianas e ocidentais.
A anexação alimenta as aspirações dos separatistas pró-Rússia do Donbass, região no leste da Ucrânia, onde um conflito armado começou em abril e deixou mais de 6.000 mortos.
Um ano depois, as organizações internacionais denunciam as violações dos direitos humanos na Crimeia, enquanto a OSCE se preocupa com a “repressão” continua da mídia independente.
A Crimeia, que depende da Ucrânia para o abastecimento de água e eletricidade, não possui nenhuma ligação terrestre com a Rússia e sofre com dificuldades de abastecimento de alimentos, cuja escolha é limitada.
Se alguns, especialmente os jovens e os tártaros da Crimeia, povo nativo que se opôs fortemente à anexação, recusam-se a falar sobre a situação atual à imprensa ocidental por medo de represálias, muitos outros preferem acreditar em um futuro dourado.
“Junto com a grande Rússia vamos construir uma nova Crimeia”, comemorou no domingo o presidente do Parlamento da península, Vladimir Konstantinov, em um comunicado.
O “primeiro-ministro” da Crimeia, Serguei Aksyonov, declarou que a Crimeia teria sofrido o mesmo destino que o leste da Ucrânia, que vive um conflito armado, sem sua anexação à Rússia.
“A guerra e o sangue com a Ucrânia, paz e estabilidade com a Rússia”, resumiu nesta segunda-feira.
Sebastopol, a maior e tradicionalmente pró-Moscou cidade da Crimeia, devido à presença da frota russa no Mar Negro, organizou um desfile de automóveis para a ocasião, antes de um concerto na praça central.
Muitas festas também estão planejadas em Simferopol, “capital” administrativa da Crimeia.
Um ano depois, as autoridades russas, que em um primeiro momento rebateram as acusações de Kiev e dos ocidentais sobre o seu papel na organização do referendo, assim como fazem em relação ao conflito no leste, se tornaram muito mais eloquentes quanto à Crimeia.
O presidente Vladimir Putin, que já havia reconhecido que o comando que tomou o controle do Parlamento da Crimeia em 27 de fevereiro de 2014 era formado por soldados russos, revelou que a Rússia posicionou baterias de mísseis de defesa costeira em um documentário exibido no domingo pela televisão pública.
“Precisamos reforçar nossa presença militar na Crimeia para que o número de nossos soldados permitisse criar as condições propícias à organização do referendo”, acrescentou.
“Estávamos prontos para colocar em estado de alerta o dispositivo nuclear ante uma eventual intervenção militar ocidental”, assegurou Putin.
A anexação da Crimeia foi aplaudida na Rússia, onde muitos consideravam um “erro” sua ligação administrativa com a Ucrânia, concedida pelo líder soviético Nikita Krutchev em 1954, e isso permitiu a Putin conquistar uma aprovação sem precedentes, com 90% de popularidade segundo pesquisas