O criminalista Nabor Bulhões afirmou nesta quarta-feira, 2, que o  empresário Marcelo Odebrecht, seu cliente, não revelou intenção de fazer  delação premiada. “Eu não tenho nenhuma manifestação dele (Odebrecht)  para mim dizendo que teria feito essa opção (da colaboração)”, declarou  Bulhões.

“As declarações e manifestações que eu tenho do  Marcelo são no sentido de lutar pela liberdade e pela inocência dele”,  disse o criminalista que, nesta terça-feira, 1, entregou à Justiça  Federal no Paraná, base da Operação Lava Jato, as alegações finais no  processo em que o empreiteiro é acusado de corrupção, lavagem de  dinheiro e organização criminosa no esquema de propinas instalado na  Petrobras entre 2004 e 2014.

Indagado se familiares de  Odebrecht o procuraram para sugerir a delação, Nabor Bulhões disse. “A  mim não procuraram. Não tenho, com relação ao Marcelo, nenhuma  manifestação nesse sentido. Ele nunca me declarou ou me pediu para  conduzir qualquer coisa relacionada à delação. Eu estou produzindo a  defesa normalmente, como fiz agora e como deverei fazer se continuar  sendo a vontade do meu cliente.”

Odebrecht está preso desde  19 de junho de 2015. As alegações finais são a etapa derradeira de uma  ação penal. Nelas, a defesa apresenta seus argumentos cruciais em busca  da absolvição do réu.

No decorrer da Lava Jato muitos  criminalistas conceituados afirmaram que seus clientes não iriam fazer  delação premiada – mas essa posição mudou em vários casos.

“Todos  conhecem minha posição com relação à delação. Eu tenho, por princípio,  respeito a quem tem entendimento contrário. Até reconheço que o acusado  tem o direito de fazer a opção (pela delação). Muitas vezes ele está  diante de um dilema, então tem que resolver uma questão existencial. Eu  tenho posições doutrinárias, acadêmicas e profissionais de restrição ao  instituto da delação, por entender que ela é incompatível com direitos e  garantias constitucionais. Agora, as opções dos clientes têm a ver com  suas vidas, suas liberdades. Isso é outra coisa. Não estou censurando  quem opta (pela delação). No caso concreto, do meu cliente, posso  afirmar que não há nenhuma manifestação dele de que teria feito essa  opção. Nunca declarou isso a mim.”

Bulhões disse que os  últimos dez dias passou praticamente trancado em seu escritório  preparando a peça de alegações finais. “Eu me debrucei sobre o  monstruoso processo, volumoso e complexo, para traduzi-lo do ponto de  vista do meu cliente. Estive com ele no início do prazo para apresentar  as alegações e meus correspondentes em Curitiba (onde Marcelo Odebrecht  está preso) também estiveram com ele para definirmos a defesa. Vi pelos  jornais (a informação sobre eventual delação). Mas não ouvi isso dele  nem dos meus advogados que com ele estiveram nesses dias. Meus advogados  estiveram com Marcelo para a colheita de informações finais, dados  fáticos que eu necessitava, confirmações, eventuais correções. O cliente  é quem tem o controle dos fatos. Eu faço a leitura técnica do  processo.”

Nas alegações finais, a defesa de Odebrecht  mantém a versão inicial de negativa total de autoria de crimes a ele  atribuídos pela Procuradoria da República.

“O momento que temos hoje é o que está na peça (alegações finais), tanto assim que fui autorizado a apresentá-la.”

Nabor Bulhões disse que nos próximos dias vai se reunir com familiares e com o próprio Odebrecht.