Um grupo internacional de cientistas acredita que não está sendo dada a devida atenção a um possível cenário de colapso global das sociedades humanas ou até mesmo de extinção da espécie devido às profundas alterações climáticas que estão empurrando o planeta para uma “potencial catástrofe climática global”.

Num artigo publicado na revista científica ‘Proceedings of the National Academy of Sciences’, os especialistas argumentam que, apesar de ser difícil prever cenários a muito longo prazo, cenários de cataclismos climáticos não podem ser afastados e que as sociedades humanas podem vir a enfrentar o que chamam de “o fim do jogo climático”.

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Nesse quadro, os humanos estariam sujeitos a eventos climáticos cada vez mais extremos e devastadores, que destroem as sociedades como hoje as conhecemos e que colocariam em risco o futuro do Homo Sapiens no planeta Terra.

“Olhar para um futuro em que as alterações climáticas aceleram e não considerar os piores cenários é, no mínimo, uma gestão de riscos ingênua”, avisam os cientistas, que acrescentam que ignorar a crise climática é “fatalmente tolo”.

“Existem muitas provas de que as alterações climáticas poderão tornar-se catastróficas”, preveem, e alertam que eventos extremos podem já ser previstos com “os níveis de aquecimento mais modestos”.

O painel de especialistas diz que os governos devem estar preparados para essa crise e que a preparação deve começar agora. Compreender melhor “estas consequências extremas pode ajudar a galvanizar a ação, a melhorar a resiliência e a desenvolver políticas”.

Os “caminhos para o desastre não se limitam aos impactos diretos das temperaturas elevadas”, defendem os cientistas, apontando que os desastres fruto das alterações climáticas, impulsionadas pela ação humana, terão impactos profundos ao nível das fundações das sociedades contemporânea. “Crises financeiras, conflitos e novos surtos de doenças podem causar outras calamidades”, explicam.

O grupo de especialistas realçam que os cenários em que a temperatura global exceda os 3 graus centígrados estão muito pouco estudados e os seus eventuais impactos não são ainda conhecidos. “É sobre o cenário que mais importa que sabemos menos”, escrevem no artigo.

Atualmente, vários países já sofrem duras consequências do aquecimento global, especialmente países mais pobres e Estados insulares, mais do que nações mais endinheiradas, que são as que mais contribuem para o desequilíbrio climático. Se não forem tomadas as devidas medidas para preparar as sociedades humanas para os piores cenários, que apesar de pouco prováveis não deixam de ser possíveis, “uma cadeia de instabilidade com potenciais ramificações graves poderá ocorrer”.

As previsões mais consensuais apontam que até 2100, de continuarmos na atual tendência de emissões com gases de efeito de estufa, o planeta poderá aquecer entre 2,1 graus e 3,9 graus. Contudo, esse aumento poderá ser limitado a 2,6 graus caso os países cumpram os compromissos climáticos assumidos em fóruns internacionais.

Ainda assim, este grupo de cientistas afirma que “mesmo essas perspetivas otimistas levam a Terra por caminhos perigosos”. Se as temperaturas ultrapassarem 2 graus acima das temperaturas do período pré-industrial, ou seja, de antes do século XVIII, a continuação da humanidade poderá ficar em risco.

“Sugerimos que está na hora de escrutinarmos seriamente qual a melhor forma de expandir os nossos horizontes de investigação” para englobar os piores cenários possíveis, apelam os cientistas.

A última vez que esse nível de temperatura foi sentido na Terra foi há mais de 2,6 milhões de anos, muito antes da ascensão das civilizações humanas, pelo que se tal se repetir, é possível prever que as nossas sociedades colapsem e o mundo, como hoje o temos, deixe de existir.