17/12/2010 - 5:04
Ao final de um “ano negro” na frente econômica com os planos de resgate da Grécia e da Irlanda, a UE dotou a zona do euro de um mecanismo de socorro durável para resistir às crises, mas os mercados permanecem na expectativa porque questões cruciais permanecem em suspenso.
Durante um encontro em Bruxelas na quinta e na sexta-feira os dirigentes da União Europeia estabeleceram um sistema de ajuda financeira permanente, na esperança de permitir que os países da união monetária enfrentem eventuais tempestades no futuro.
Trata-se de uma inovação importante, que seria inconcebível há alguns anos.
A cúpula “disse claramente que o euro era indissociável da Europa”, declarou nesta sexta-feira a chanceler alemã Angela Merkel, ao final da reunião em Bruxelas.
Concretamente, os dirigentes da UE concordaram em modificar o tratado europeu, o Tratado de Lisboa, com o objetivo de autorizar explicitamente os países da união monetária a criar um dispositivo de solidariedade financeira entre si.
Afetada pela crise grega na primavera, a Europa já criou um fundo de secorro provisório de 440 bilhões com base em garantias dos Estados, no âmbito de um dispositivo mais amplo de 750 bilhões de euros, incluindo o FMI e a UE. Mas esse instrumento vai expirar em meados de 2013.
Para sucedê-lo, foi decidido que será implantado o dispositivo permanente. O obetivo é deixar os mercados mais tranquilos sobre a capacidade de reação da zona do euro, no momento em que Espanha e Portugal parecem ser os mais vulneráveis.
Pela primeira vez, os bancos e fundos privados detentores da dívida pública poderão contribuir para salvar um país da falência.
Os dirigentes europeus se disseram preparados também para “fazer o que for necessário para garantir a estabilidade da zona do euro”.
Mas eles não se pronunciaram sobre um eventual aumento dos recursos do mecanismo de apoio atual e no futuro, e se contentam em prometer um “suporte financeiro adequado” ao dispositivo que existe hoje. Enquanto isso, os mercados esperam números.
O mecanismo permanente terá recursos “suficientes”, “convincentes”, assegurou Merkel.
Paralelamente, França e Alemanha defenderam em Bruxelas a abertura de uma outra frente para melhorar a coerência da união monetária. Elas querem reaproximar as políticas econômicas de diferentes países, principalmente fiscais.
“Será preciso ir mais longe para afirmar dentro da zona do euro a necessidade da convergência das políticas econômicas”, além das medidas já anunciadas este ano para reforçar a disciplina orçamentária comum, ressaltou o presidente francês Nicolas Sarkozy.
“Essa será a tarefa das primeiras semanas do início do ano”, prosseguiu, anunciando propostas comuns a esse respeito com Angela Merkel.
O polêmico debate sobre as euro-obrigações – os empréstimos lançados em comum por vários países – foi deixado para depois.
Entretanto, os mercados permanecem preocupados com o possível contágio da crise para outros países.
“Os dirigentes europeus apresentam uma resposta para as crises futuras, mas não para a atual”, considerou Carsten Brzeski, economista do ING.
“É uma nova oportunidade perdida para tranquilizar os mercados”, disse Frank Engels, economista do Barclays Capital.
Para Jean-Dominique Giuliani, que dirige a Fundação Schuman, um centro de reflexão sobre a Europa, os dirigentes “devem tomar decisões mais rápidas e mostrar mais clareza, coragem, audácia e visão”.
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