O setor automotivo fechou 2014 com números bem piores do que os esperados. A queda de 7,4% nas vendas, em relação a 2013, acendeu o sinal de alerta nas montadoras. Especialmente porque é o segundo recuo seguido: em 2013 as vendas de automóveis e comerciais leves caíram 4%. Um quadro preocupante, mas que não se mostra capaz de minar a confiança dos empresários do setor. Pelo menos é o que garante Jaime Ardila, presidente da GM na América do Sul. Na semana passada, ao inaugurar o novo centro logístico do complexo produtivo de São Caetano do Sul, na região do ABC, em São Paulo, Ardila reafirmou a continuidade do programa de investimento no valor de R$ 6,5 bilhões previstos para o quinquênio 2014-2018.

“Nossa visão para o Brasil é de longo prazo. Nosso plano de investimentos atual é o maior já feito pela empresa na América do Sul.” Uma demonstração do prestígio da região foi a presença do presidente mundial da GM, Dan Ammann, na solenidade que marca a celebração dos 90 anos da montadora no Brasil. Na avaliação do consultor Luiz Carlos Mello, presidente do Centro de Estudos Automotivos, a ambição de Ardila leva em conta as vantagens comparativas do Brasil. Primeiro, porque se trata do País emergente que reúne as melhores condições para crescer.

Segundo, porque se consolidou como um polo automotivo, tanto pelo lado da manufatura quanto da qualidade da mão de obra. “Nenhuma montadora pensa em abrir mão de um mercado que possui um potencial real gigantesco, como o nosso”, diz. A Jaguar Land Rover, que iniciou a construção de uma fábrica de R$ 750 milhões em Itatiaia (RJ), também está otimista com o Brasil. “Estamos investindo a longo prazo”, disse o diretor global de expansão da companhia, Phil Hodkinson (confira a entrevista no portal da DINHEIRO), no lançamento do Discovery Sport na Islândia, na semana passada.

O centro logístico da GM consumiu R$ 100 milhões e possui um papel vital na estratégia de Ardila. Com capacidade para movimentar 1,4 milhão de peças por dia, a unidade será a espinha dorsal da política de expansão da marca americana no mercado brasileiro. Isso porque permitirá acelerar em 40% o ritmo de estocagem de produtos, reduzindo em 60% o consumo de energia. Um ganho de eficiência importante, especialmente para uma empresa que pretende pisar no acelerador, adicionando modelos ao seu portfólio nos próximos dois anos. “Recente-mente, lançamos o Spin Activ e o Onix Effect e teremos outras novidades no segundo semestre”, afirma Ardila.

“Além disso, teremos uma série importante de novos produtos em 2016.” Esse otimismo faz parte de uma estratégia vital, especialmente em um mercado como o brasileiro, sabidamente movido pela emoção e por novidades. Uma boa amostra disso é a constatação de que a reestilização ajudou a consolidar o Onix na quarta posição entre os modelos mais vendido do País em 2014. Com 150.841 unidades comercializadas, o modelo ficou atrás do Palio, do Gol e do Strada. A confiança de Ardila, ao que tudo indica, não se abala nem diante do anúncio, feito recentemente pelo governo federal, de iniciativas restritivas na área econômica. “As medidas que o novo time econômico está tomando na área fiscal e monetária contam com nosso apoio”, diz.

“Se forem bem e rapidamente implementadas trarão uma sólida recuperação econômica a partir do próximo ano.” Mais que apenas os fundamentos econômicos, Ardila acredita que o setor industrial também deverá sair fortalecido. E é na área industrial que a GM pretende continuar concentrando suas apostas, em relação às rivais. Uma parte dos R$ 6,5 bilhões vai ser gasta para cumprir as regras do Inovar Auto, programa que prevê o desenvolvimento de veículos mais eficientes. E a ambição do presidente da GM na América do Sul vai além da melhoria da performance dos motores flex. “Dependendo da política do governo, podemos incluir (a produção de) veículos elétricos e híbridos.”