07/08/2002 - 7:00
Uma carta enviada na semana passada para a SEC, o órgão regulador do mercado de ações dos Estados Unidos, revelou que os casamentos perfeitos também passam por crises. No comunicado, o presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, informou que estava se retirando do conselho de administração do provedor de internet Aola, uma associação entre o grupo venezuelano Cisneros, a America On Line, de Steve Case, e o Itaú. Setubal alegou falta de tempo para se dedicar à Aola em função das suas atribuições no banco. Foi a explicação oficial, mas a saída ganhou outras interpretações. ?Há uma crise no casamento que parecia perfeito?, afirma um analista de um banco americano que acompanha a Aola desde a entrada do Itaú na companhia em maio de 2000.
Desde o início, o Itaú funcionou como uma bóia de salvação para a Aola no Brasil, o maior mercado da América Latina. Até a entrada do banco, o provedor patinava entre os concorrentes. Em junho de 2000 eram 129 mil assinantes. Hoje, estima-se que a Aola tenha 1 milhão de usuários, mas apenas 300 mil pagam as mensalidades. Os 700 mil restantes são usuários que acessam em caráter promocional ou clientes subsidiados pelo Itaú. Cada cliente tem direito de três a seis meses de acesso gratuito e depois a Aola espera convertê-lo em cliente pago. Isso não acontece na taxa esperada.
Pelo contrato, o Itaú se comprometeu a colocar 450 mil assinantes pagos no provedor até 2004, caso contrário terá que pagar uma multa de até US$ 185 milhões. É aqui que está o problema. As metas fazem parte de outra época onde a taxa de crescimento da internet justificava números tão otimistas. Quando o Itaú aceitou a sociedade recebeu 12% do provedor, ações avaliadas na época em US$ 285 milhões. Hoje, a ação da Aola não ultrapassa US$ 0,40 e o valor de mercado da companhia é menor que US$ 23 milhões. Para complicar a situação, o Itaú não está mais disposto a fazer aportes de capital no negócio. Há dois meses, quando os sócios da Aola injetaram US$ 100 milhões na empresa, o Itaú avisou que seria sua última vez, suficiente para criar um mal-estar no casamento que parecia perfeito.