Se no princípio era o verbo, Cristiana Arcangeli vai no caminho certo. A empresária, que ganhou fama e dinheiro ao criar e vender a Phytoervas (primeira marca nacional de cosméticos e produtos de higiene pessoal naturais), está de volta. No próximo dia 28, Cristiana lançará uma nova grife nesse mercado, a qual, desde o começo do projeto, há dois anos, ela trata apenas por ?É?. O nome é fictício ? serviu até agora para facilitar a comunicação interna ?, mas os planos são bem reais. A marca ?É? (o batismo verdadeiro só será divulgado no lançamento) chegará às prateleiras com uma linha de 35 produtos para cabelos. Depois, diz Cristiana, virá muito mais: desde cremes para pele até maquiagem. ?Resolvemos começar com xampus porque nesse segmento o consumidor está mais aberto à experimentação. Em cremes faciais, por exemplo, a fidelidade é muito grande, fica difícil aparecer do nada com algo novo?, explica a empresária.

Cristiana não está usando a primeira pessoa do plural por força do hábito ou modéstia. Quando ela diz ?resolvemos?, está se referindo também a seu sócio investidor: ninguém menos que João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, ex-dono da Arisco e atual da Assolan. Coube a ele a injeção dos US$ 2 milhões iniciais do projeto ?É?. O valor parece baixo tratando-se de Júnior, que vendeu a Arisco por US$ 490 milhões e hoje tem um terço do mercado de palha de aço nas mãos. ?O investimento é baixo porque você não precisa mais ter uma fábrica para entrar nesse mercado. A produção e a logística serão terceirizadas?, conta Cristiana, que montou uma equipe de 80 pessoas para tocar o negócio. Além do capital, Júnior está se dedicando a sua especialidade, a distribuição. Cristiana cuida do desenvolvimento dos produtos e do marketing.

Júnior não é dado a entrevistas. Mas não é difícil imaginar por que ele escolheu Cristiana como sócia e por que resolveu agora atacar em cosméticos. Começando de trás para a frente: o mercado brasileiro de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos é um dos mais vigorosos do mundo. No ano passado, ele cresceu 34%, ante um avanço de apenas 8% em termos globais. Com faturamento de US$ 13,8 bilhões, o Brasil saltou da sexta para a quarta posição no ranking das potências do setor, desbancando Alemanha e Inglaterra, segundo a Abihpec, associação dos fabricantes. Só no segmento de xampus, no qual Cristiana e Júnior farão sua estréia, as receitas chegaram a R$ 1,2 bilhão em 2005.

Agora, por que Júnior escolheu Cristiana. Certamente não foi por conta dos belos olhos verdes da moça. Depois de vender a Phytoervas à americana Bristol-Meyers (hoje a marca está com a brasileira Nasha Cosmetics), em 1998, por uma quantia confidencial, Cristiana soube construir uma imagem ligada a questões de beleza e qualidade de vida. Criou programas de tevê, de rádio, colunas em revistas, livros e, antes disso tudo, inventou o Phytoervas Fashion, precursor da São Paulo Fashion Week. Ela virou celebridade ? fato que certamente ajudará a vender a ?É?.

Mais do que isso, trata-se de uma empresária ousada (quem falava em xampu de PH neutro em 1987?) e com uma preocupação quase neurótica com qualidade de produto. Um membro de sua equipe diz que ela testou pessoalmente cada um dos 35 produtos a serem lançados e que na semana passada ainda estava pedindo melhorias. Ela entende do assunto. Tanto que foi convidada a implementar a novíssima operação de venda de perfumes importados das Casas Bahia. É um grande projeto. ?Estamos testando o formato em 32 lojas, mas estimamos que ele possa ser levado a 100 filiais?, diz Michael Klein, diretor-executivo da rede. Com a ?É?, Cristiana espera elevar suas receitas (hoje vindas basicamente de sua empresa de distribuição de perfumes ? Chanel, Bulgari, etc. ? e de uma rede de nove perfumarias) a R$ 50 milhões em 2007.

US$ 13,8 bilhões fatura anualmente o setor de cosméticos no Brasil