O segmento agropecuário do Brasil é considerado uma das forças motrizes mais importantes de nossa economia. No entanto, alguns desafios enfrentados pelos produtores rurais, como a falta de acesso ao crédito para modernização de suas atividades, estão cada vez mais presentes no dia a dia desse setor. Uma das saídas pode ser o crowdfunding, também conhecido como financiamento coletivo. 

A modalidade permite que um grande número de investidores contribua com pequenas quantias de dinheiro para apoiar um projeto ou empresa específica. Uma abordagem, inclusive, regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que está apresentando grande reconhecimento do mercado, tornando-se uma fonte valiosa de financiamento para o setor agropecuário brasileiro.

“O crowdfunding já é possível para produtores rurais pessoas jurídicas, com faturamento de até R$ 40 milhões anuais. Este perfil de produtor, no entanto, tem mais opções de crédito disponível, o que faz o crowdfunding ser menos atrativo. Se ampliarmos esta possibilidade para produtores rurais pessoas físicas, podemos alcançar nichos ainda mais carentes de opções de financiamento”, explica Mariana Bonora, diretora executiva da ABFintechs.

Agtech levantou mais de R$ 2 milhões em 2021

Uma das empresas que apostou no modelo de financiamento coletivo foi a SciCrop. Especialista em tecnologia para ajudar o produtor rural, a companhia levantou mais de R$ 2 milhões no final de 2021, com mais de 130 investidores. 

“O crowdfunding tem uma vantagem que é a rapidez no investimento. Você tem uma diligência muito mais simplificada”, afirmou o sócio da agtech Renato Ferraz. 

Para Ferraz, uma outra vantagem é que há a possibilidade de investidores mais qualificados e que conhecem melhor a área. “Qualquer fundo de investimento que entrar no agro tem esse leque muito grande de entender o modelo de negócio que é mais longo prazo. O retorno do investimento no agro é no mínimo é uma safra, um ano. Não tem retorno rápido”, explicou. 

Atualmente, o Brasil possui mais de 5 milhões de produtores rurais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  A ABFintechs acredita que o crowdfunding no agronegócio pode simplificar a busca por crédito. 

“Embora seja difícil quantificar o potencial desse mercado, é possível destacar que há milhões de produtores rurais no Brasil, e que a grande maioria exerce a atividade na forma de pessoa física, logo, poderiam se beneficiar desta iniciativa”, afirmou Bonora.

Prestação de contas é calcanhar de Aquiles

Por outro lado, Ferraz reforça que algumas dificuldades também podem aparecer para o produtor depois da captação do recurso, já que é recomendável que o produtor preste contas desse dinheiro para os investidores. 

“Apesar de toda essa facilidade, existe um compromisso após essa captação. Quando você faz o crowdfunding podem entrar centenas de novos investidores. Agora, imagina um produtor rural que lançou um financiamento coletivo para expandir uma área produtiva lidando com mais de 100 investidores em uma área dele. Então essa questão da governança após o investimento é um dos calcanhares de Aquiles da modalidade”, ponderou.