Os generais do aço de Volta Redonda se preparam para transformar a empresa em uma multinacional. Preocupada em ganhar escala e fazer frente às gigantes internacionais, a Companhia Siderúrgica Nacional está desenhando um plano de aquisições, que deve começar por uma laminadora nos Estados Unidos ou na Europa. Um grupo de dez executivos seniors trabalham full time cercados por uma montanha de papéis. Eles estudam a melhor oportunidade de negócio. Por razões de mercado e motivos diplomáticos, os nomes das empresas que estão na lista de compra pela siderúrgica brasileira não podem ser divulgados. De qualquer forma, aquisição efetiva só deve sair depois da reestruturação societária do setor siderúrgico. Explica-se: a parte da CSN na Vale do Rio Doce está avaliada em cerca de US$ 1 bilhão. É dinheiro de sobra para o desembarque no Exterior. Não que a CSN, maior siderúrgica da América Latina e dona de uma receita bruta de R$ 3,4 bilhões em 1999, não consiga alavancar o projeto de internacionalização antes dessa venda de participação. Mas tudo ficaria mais fácil se essa venda acontecesse antes. ?Essa expansão é fundamental para a estratégia da empresa. Precisamos ganhar em escala e aproveitar melhor nossos ativos?, diz Albano Chagas Vieira, diretor-executivo da CSN.

A estratégia a que ele se refere baseia-se no seguinte princípio: produzir cada vez mais produtos de maior valor agregado. Exemplo: a CSN produz placas de aço, cujo preço está em torno de US$ 250 a tonelada. As placas de aço são consideradas insumos porque estão no meio da escala produtiva. Transformado em laminado a frio, esse produto tem seu preço aumentado para US$ 400. É isso que a empresa quer fazer, por exemplo, com a compra de uma laminadora. Vai exportar do Brasil placas de aço para transformá-las, na unidade do Exterior, e com isso cobrar mais pelo produto. A CSN conta com vantagens que nenhuma siderúrgica no mundo tem: um sistema de logística integrada que inclui ferrovias e terminal de contêineres, além do mais importante: minas próprias, como Casa de Pedra. Ou seja: custo baixíssimo para levar placas a outros continentes.

Para abastecer a usina que será comprada, a CSN pretende construir uma nova unidade industrial de produção das placas de aço. Essa fábrica vai ficar num terreno da própria CSN, de dez milhões de metros quadrados, em Itaguaí, próximo ao porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro. O projeto todo sai por volta de US$ 2 a 3 bilhões. O mercado dá como certo que a opção recairá sobre os EUA. Isso por que, ao contrário da Europa, eles têm um parque siderúrgico ainda não sacudido por uma reestruturação que loteou o mercado entre grandes grupos. Há uma infinidade de pequenas siderúrgicas que casariam perfeitamente com as intenções da CSN. Sua ida aos Exterior é, na verdade, uma espécie de plano B. A empresa pensou em crescer por aqui comprando a CST, cuja especialidade é justamente placas de aço. Mas quem acabou levando a CST, em 1998, foi a francesa Usinor.

Logo depois da derrota, a CSN começou a pensar numa alternativa. A empresa sabe que não tem saída. Se ficar onde está, acaba comprada por empresas estrangeiras. Para dar uma idéia da dimensão entre a CSN e o mundo siderúrgico, basta dizer que a gigante coreana Posco fabrica 25 milhões de toneladas de aço por ano, o equivalente a toda produção brasileira. Por isso, a CSN resolveu ir à luta. E está escolhendo a internacionalização como arma. Os estudos sobre uma eventual aquisição no Exterior devem ficar prontos até setembro. Enquanto a definição não sai, a CSN planeja sua vida no País. Está expandindo a produção em Volta Redonda, diversificando seu mix de produtos e garantindo o abastecimento de energia. O desembolso supera R$ 1 bilhão.

O alto forno número três será reformado em 2001, ganhando maior capacidade produtiva. A usina, que hoje produz cinco milhões de toneladas anuais de aço bruto, passará para seis milhões. Os resultados dessa plástica podem ser vistos em alguns produtos que hoje estão ao alcance das mãos. Boa parte da produção está sendo transformada em latas de refrigerante. Para servir de matéria-prima para embalagens, o aço tem que ser perfeito.
Em junho, começa a funcionar a primeira das cinco turbinas da hidrelétrica de Itá, no rio Uruguai, fronteira de Santa Catarina com Rio Grande do Sul. O empreendimento é um consórcio do qual fazem parte a CSN, a Itambé, a Odebrecht e a Eletrosul. Itá, junto com a Central Termoelétrica de Volta Redonda, inaugurada em dezembro, garantirão uma economia de US$ 40 milhões ao ano em despesas com energia elétrica. Nada mau, considerando que a CSN gasta hoje US$ 130 milhões anuais em conta de luz. ?Os dois empreendimentos vão fornecer energia a um custo médio muito inferior ao de hoje?, diz José Paulo de Oliveira Alves, diretor-executivo de infra-estrutura e energia.