15/12/2015 - 0:00
Um dos últimos países do Caribe a se conectar à internet, no final dos anos 1990, Cuba continua praticamente ilhada no ciberespaço. Nas duas últimas décadas, os avanços quanto ao acesso à rede mundial foram diminutos, dificultados pelos rigorosos mecanismos de controle estabelecidos pelo regime dos irmãos Fidel e Raul Castro.
Segundo o jornal americano The New York Times, em editorial publicado no dia primeiro de dezembro, embora Cuba tenha se conectado, em 2013, à rede de cabos submarinos que permite conexões rápidas, a internet continua um artigo de luxo, caro e escasso, acessível a poucos consumidores.
Dados recentes mostram que a penetração é de apenas 3,4% dos domicílios, restringindo-se aos organismos de governo e universidades. Para quem pode pagar em moeda forte, como é o caso dos turistas, a saída é recorrer aos computadores dos hotéis, que cobram por uma hora de navegação entre seis e oito dólares, quantia inexequível num país em que o salário médio e as aposentadorias chegam, em média, a menos de 20 dólares (cerca de 400 pesos, em moeda local).
Outra alternativa utilizada pela população é acampar nas imediações dos estabelecimentos com acesso à internet, como hotéis e as próprias centrais telefônicas do governo. Celulares à mão, essas pessoas, em sua maioria jovens, tentam vencer a barreira digital.
Recentemente, para atenuar a pressão popular, o governo criou 35 centros com conexão wi-fi, operados pela Empresa de Telecomunicações de Cuba (ETCSA), que permitem o acesso à Internet via computadores portáteis ou celulares. O serviço, mais barato do que o cobrado pelo setor hoteleiro, ainda assim é quase proibitivo para quem não conta com renda moeda forte – os dois dólares cobrados por hora representam 10% do salário médio cubano.
Mesmo assim, esses centros estão sempre lotados, com longas filas formadas pelos cidadãos que, de uma forma ou de outra – seja explorando pequenos negócios, como os paladares, nome dado aos restaurantes de propriedade de empreendedores privados, que proliferaram pela Ilha nos últimos anos, seja prestando serviços de guia ou de motorista, entre outros, aos visitantes estrangeiros.
A internet, na verdade, ilustra à perfeição o dilema vivido pelos dirigentes cubanos em relação à abertura econômica e política do país, colocada na ordem do dia com o restabelecimento das relações diplomático com os Estados Unidos, formalizado no dia 20 de julho passado.
Por um lado, como frisa o NYT, as correntes conservadoras, formado principalmente pelos dirigentes mais veteranos, muitos deles ex-combatentes e companheiros de guerrilhas de Fidel e Raul, temem que a ampliação do acesso à rede turbine a ação dos dissidentes e opositores do regime implantado em 1959, com a queda do ditador Fulgêncio Batista. Por outro, destaca-se uma geração mais jovem e progressista, que aposta no desenvolvimento de um setor tecnológico local um instrumento para ativar a economia e gerar empregos, estancando eventualmente o êxodo de legiões de jovens profissionais para outros países, notadamente para os Estados Unidos.
Propostas de apoio à modernização da infraestrutura tecnológica de Cuba não faltam. Há pouco tempo, por exemplo, o Google ofereceu sua contribuição, dispondo-se a replicar experiências bem sucedidas executadas em outros países desconectados, como Uganda e Gana. A empresa fundada por Sergey Brin e Larry Page se dispôs a financiar a implantação de um cabo submarino adicional, capaz de aumentar substancialmente a velocidade das conexões, além de instalar um sistema de cabos de fibra óptica, torres de banda larga móvel e pontos de acesso wi-fi.
Para o jornal americano, uma aliança com o Google, uma companhia influente nos centros de decisão de Washington, poderia, de quebra, acelerar o fim do embargo econômico imposto pelos americanos, que tantos prejuízos e sacrifícios impôs ao povo cubano, ao longo de mais de cinco décadas. Além disso, enquanto o fim do embargo não vem, restaria à Cuba, que tem como principais atrativos o fato de ser a nação mais povoada do Caribe, com 11,4 milhões de habitantes, dotados de um alto nível educacional e dona de um Produto Interno Bruto de US$ 68,2 bilhões, procurar parceiros em outros lugares.
Como nota o NYT, interessados não faltariam, caso o governo local superasse suas indefinições e dúvidas e procurasse acelerar o processo de integração tecnológica do país. Eis aí, sem dúvida, um bom tema para a discussão nos boards de grupos de telecomunicações como a América Móvil, dona da Claro, e Telefónica, dona da Vivo, que mantêm importantes operações na América Latina.