O governo de Cuba solicitou nesta quarta-feira (19) a Joe Biden que vá além e suspenda as sanções dos Estados Unidos contra a ilha que forem atribuição do presidente, depois que Washington anunciou uma ajuda emergencial de 2 milhões de dólares à ilha pela passagem do furacão Ian.

Os Estados Unidos “têm o dever moral” de aplicar isenções a Cuba da mesma forma que fez com outros países durante a pandemia e após desastres naturais, disse o chanceler Bruno Rodríguez ao apresentar um relatório sobre o impacto do embargo americano contra a ilha.

Nesse sentido, acrescentou que o país “poderia tomar medidas de levantamento ou flexibilização do bloqueio em dezenas de áreas, utilizando as faculdades executivas”.

“É o que a moral, é o que decência e é, inclusive, o que o interesse nacional da política e o direito internacional demandariam”, indicou Rodríguez.

O chanceler agradeceu a ajuda humanitária anunciada na terça por Washington através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, depois que Ian deixou dois mortos e danos no oeste da ilha no final de setembro.

O chefe da diplomacia também disse que após um incêndio que queimou quatro tanques de petróleo em Matanzas, os Estados Unidos ofereceram duas assessorias técnicas virtuais e 100 uniformes para bombeiros, dos quais foram entregues apenas 43. O acidente deixou 17 mortos e prejuízos materiais avaliados em 100 milhões de dólares apenas de combustível queimado, explicou Rodríguez.

A ajuda de Washington pelo furacão e pelo incêndio “não medimos por sua magnitude econômica, e sim por ser um ato de natureza humanitária que agradecemos”, acrescentou o chanceler.

Cuba enfrenta sua pior crise econômica em três décadas, com escassez de alimentos, remédios e combustíveis, além dos frequentes apagões causados por suas termoelétricas obsoletas.

Esta situação foi agravada desde que o ex-presidente americano Donald Trump endureceu a partir de 2018 o embargo imposto a Cuba desde 1962, e também com os efeitos da pandemia de coronavírus.

Quando chegou à Casa Branca em janeiro de 2021, Biden prometeu revisar a política sobre a ilha, mas endureceu o discurso após massivos protestos contra o governo cubano em julho de 2021.

O embargo dos Estados Unidos, endurecido em várias ocasiões, não conseguiu derrubar o governo do Partido Comunista cubano, apesar do contexto “de asfixia econômica, de guerra econômica de buscar deliberadamente o colapso da economia cubana”, assinalou Rodríguez.

No começo de novembro, Cuba voltará a submeter a votação, pela 30ª vez ante a Assembleia Geral da ONU, uma resolução que pede o fim do embargo americano. Segundo o chanceler, entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022, essas sanções custaram a Cuba 3,8 bilhões de dólares – “um recorde histórico para esse período reduzido” -, que teriam permitido à economia cubana crescer 4,5%.

Desde que o presidente John F. Kennedy impôs o embargo, em plena Guerra Fria, o mesmo causou prejuízos à ilha de 154,2 bilhões de dólares a preços correntes, segundo o responsável pela política externa cubana.