Na reta final da campanha eleitoral, o festival de promessas dos candidatos domina os debates na TV, os discursos nos palanques e as postagens nas redes sociais. É um verdadeiro festival do tipo “quem quer dinheiro?” ou “quem dá mais?”, que só pensa em conquistar votos, sem nenhum compromisso com o futuro sustentável do País.

O carro-chefe do populismo eleitoral é o Auxílio Brasil. O programa social teve o seu valor elevado recentemente de R$ 400 para R$ 600, mas não há previsão orçamentária para 2023. Na verdade, o valor previsto para o ano que vem é de apenas R$ 405.

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E qual a reação dos principais postulantes ao cargo máximo do Palácio do Planalto? Todos garantem, no mínimo, manter o valor atual de R$ 600, sem mencionar de onde sairão as verbas. Estima-se um gasto extra de R$ 52 bilhões apenas para atender 22 milhões de famílias.

Há candidatos prometendo reajuste para o salário-mínimo acima da inflação, com impacto direto nas contas da Previdência Social. Outros prometem aumento para o funcionalismo público e manutenção do imposto zero para os combustíveis. São todas promessas atraentes e que rendem votos. Afinal, quem seria contra?

Até mesmo a correção da tabela do Imposto de Renda (IR), com isenção para todos os brasileiros que ganham menos de R$ 5 mil, foi colocada na campanha. Curioso notar que, desde o início do Plano Real, nenhum presidente da República cumpriu essa promessa – e, sim, todos prometeram. O fato é que FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro não reajustaram a tabela do IR, elevando sorrateiramente a carga tributária da classe média trabalhadora.

O vencedor nas urnas, qualquer que seja, terá de lidar com a realidade fiscal em 1º de janeiro de 2023. Se não cuidar com carinho das contas públicas, vai jogar o País numa espiral inflacionária que, em última análise, prejudica principalmente os mais pobres. A reação do Banco Central autônomo será, inevitavelmente, de elevar os juros, colocando a economia brasileira numa rota recessiva, com aumento do desemprego.

Claro que é fundamental manter o valor de R$ 600 do Auxílio Brasil, mas é preciso encontrar espaço no orçamento sem piruetas para driblar o teto de gastos. Será importante também que o presidente eleito já sinalize imediatamente o desejo de retomar o debate da reforma administrativa, cujos objetivos são enxugar e melhorar a máquina pública ao longo do tempo.

Se não houver um esforço de cortar gastos e evitar desperdícios, além de acelerar as privatizações, o próximo governo irá fracassar. Será vítima do seu próprio populismo eleitoral. Não acredita? É só dar uma olhadinha para a Argentina…